Meus bonsais

     Olhem só como fui recebida pelo meu bonsai de figo quando retornei de férias. Ele está tão lindo! Cheio de frutos enormes. Estou só aguardando amadurecer para saborear.



         A pimenteira também soltou seus frutos. Reparem só no tamanho das pimentas, elas prometem...


     A castanheira do Pará abriu folhas novas e está bonita que dá gosto. Pelo que li na internet ela não dará frutos porque isto só acontece na mata virgem, pois para a flor ser polinizada depende de um determinado tipo de inseto, forte o suficiente para conseguir levantar o capuz da flor amarela da castanheira. Uma pena. Eu adoraria ver o fruto, mas o que não tem remédio...
 
castanha do Pará


     bonsai de tamarindo
     Adoro meus bonsais. Gosto de cuidar deles e observar como pequenos cuidados pode fazer toda a diferença. Estas miniaturas de árvores dão frutos de tamanho normal. É incrível! Já me deliciei com as goiabas do meu bonsai, agora estou aguardando os figos.

Um domingo chuvoso despertando saudades...

     O céu amanheceu cinza, carregado de nuvens espessas. Uma chuva fina insiste cair sem pressa, sem estardalhaço, sem o menor ruído. Devagar a água vai encharcando o solo, provocando fissuras, largando mofo nas paredes das casas, dos muros... Um tempo assim deixa as pessoas um pouco melancólicas... com uma saudade difusa sabe-se lá do que...
     Acordei cedo, com preguiça de levantar da cama. A janela do meu quarto, que ficou aberta durante toda a noite, deixava o frio entrar sem o menor pudor... Me enrolei na colcha de retalhos feita pela minha mãe. Acho bom dormir enrolada em colcha de retalhos, ela não é nem muito leve e nem pesada, é na medida certa para agasalhar. A minha ainda tem carinho de mãe e isto precisa ser levado em conta.
     Minha mãe já está com mais de oitenta anos e sua diversão, além de cuidar dos passarinhos que adoram visitar nosso jardim, é emendar pedacinhos de tecido que se transformam em lindas colchas de retalhos. E não pensem vocês que suas colchas são apenas um amontoado de pedaços de pano, de jeito nenhum. Seus trabalhos em patch work são elaborados e suas colchas ficam lindas! Quando retornei da minha viagem de férias no final do mês de outubro encontrei minha cama coberta com uma colcha nova que ela tinha acabado de fazer. Ficou linda e deve ter dado um trabalho danado, mas ela adora desafios.
    Minha mãe é uma figura única, especial, e suas tiradas são hilárias. Aqui em casa sempre damos gostosas gargalhadas com as coisas que ela diz meio que de repente, como que saídas do nada... Olhamos umas para as outras e caímos na risada e ela nos devolve um olhar como quem pergunta: do que estão rindo, afinal?
     Com uma catarata avançada e evitando a cirurgia desde 2009 por medo de ficar cega, sua visão estava bastante deficiente. Trocar os óculos, segundo os oftalmologistas, não adiantaria nada então insistimos que não dava mais para adiar a cirurgia. Ela finalmente cedeu e aceitou passar pelo procedimento. Fez o primeiro olho e achou estranho enxergar tudo meio azulado. O médico explicou que era normal esta visão meio azulada porque antes a catarata deixava tudo opaco, amarelado, e com a cirurgia ela voltou a ter uma visão normal e clara. Quando ela retornou da cirurgia do outro olho, assim que entrou no quarto encarou um quadro na parede e soltou: nossa, esta moldura de metal está precisando ser polida. Está fosca demais. Pensei: a cirurgia ficou perfeita...
     Minha mãe não dispensa uma missa aos domingos. O Jorge sempre a acompanha à igreja e hoje não foi diferente. Ela acabou de chegar contando as novidades, comentou sobre um trecho da homilia do dia e me falou toda animada: sabe aquelas letras que o pessoal na igreja projeta na parede para os fiéis acompanharem os cantos? Pois é, enxerguei tudinho e consegui ler todas as palavras. Antes eu só via um borrão. Pensei: definitivamente a cirurgia de catarata foi um sucesso.

Motivos para comemorar


       Ontem passei por mais uma consulta com meu oncologista, o Dr. Fernando Maluf. Primeiro conversamos e então falei de como estou me sentindo bem, apesar de alguns efeitos colaterais provocados pela medicação que estou usando. Ele também me perguntou sobre a viagem de férias para a Bretanha ao que respondi que não poderia ter sido melhor.
    Falei das minhas unhas que ficam frisadas e costumam simplesmente rachar na vertical, o que pode ser bem doloroso quando afunda muito. Para evitar acidentes costumo manter as unhas bem curtinhas e ainda coloco um pedaço de esparadrapo naquelas que insistem em ficar rachadas bem no meio do dedo. Também falei das perebinhas que insistem em aparecer de vez em quando em qualquer lugar no corpo, e das pálpebras que parecem estar achando divertido continuar inflamando e provocando blefarite, apesar dos cuidados e do uso de remédios.
    Conversa vai, conversa vem, é tudo efeito colateral e não adianta ficar sofrendo. O melhor é aprender a lidar com a situação e não esquentar muito a cabeça com isto.
     Depois que me examinou cuidadosamente e viu que estou realmente bem o dr. Fernando pegou o resultado do último PET que fiz. Ele, a Dra. Dani e mais uma oncologista foram para a sala ao lado enquanto fiquei aguardando no consultório. Quando retornou me disse sorrindo: "definitivamente, você é um verdadeiro milagre". O exame não deixa dúvidas que o câncer regrediu e está sob controle. A dra. Dani até brincou que irá sugerir uma viagem à Bretanha para outros pacientes porque para mim a Bretanha fez muito bem.
       O Dr. Fernando destacou que eu estava com uma forte neurotoxicidade e a doença havia avançado bastante, mas agora, após quase um ano do novo protocolo e depois de ter passado pela radioterapia, principalmente a lesão do esterno, regrediu consideravelmente. Saí de um aumento de 150% no metabolismo da lesão esternal para uma melhora de quase 90% por cento da mesma lesão e da diminuição das demais lesões, e o que não diminuiu está estável. É ou não é uma notícia maravilhosa?


          Outra notícia boa é que foi liberada no Brasil uma medicação nova e específica para o tipo de câncer que tenho, o HER2 positivo. A nova droga aprovada pela ANVISA é o pertuzumabe, um anticorpo monoclonal humanizado que em combinação com o trastuzumabe, que já uso, segura a progressão da doença por muito mais tempo.  Uma esperança a mais para os pacientes acometidos por este agressivo tipo de câncer.



         Como diz a outra Dra. Dani, minha psicóloga, sou parecida com Zorba, o Grego. Concordo com ela, pois como Zorba aprendi a viver cada momento e aprendi a curtir a vida nas pequenas coisas. Procuro viver minha vida sem ansiedade excessiva com qualquer coisa que seja, sem culpa e sem preocupação demasiada com a virtude ou com a noção do pecado que tanto nos atormenta. Hoje já não tenho mais medo do inferno e nem ambiciono o céu da forma como aprendi quando criança. Hoje consigo ser feliz com o que tenho nas mãos.

Mestres do Renascimento - um passeio pela evolução da pintura

                  Meu professor de inglês, que tem formação em pintura mural e alma de artista, propôs que nossa aula de hoje fosse realizada no Centro Cultural do Banco do Brasil para vermos juntos a exposição dos Mestres do Renascimento. São 57 obras-primas italianas emprestadas de 23 museus e colecionadores privados.
                Faço uma idéia da logística para trazer aquele tesouro ao Brasil. São pinturas, desenhos e esculturas dos séculos 15 e 16 de artistas como Leonardo, Michelangelo, Rafael, Fra Angélico, Tintoretto e outros. A nata da pintura renascentista em seu maior esplendor, apresentada ao público brasiliense.
                A sala de exposição estava gelada. É uma das condições para a preservação das obras que estão com mais de 500 anos e precisam ser acondicionadas em temperatura e umidade constantes. Eu, que já passei frio em outras exposições, desta vez estava prevenida usando um casaco quentinho.

Virgem da Humildade, de Gentile da Fabriano
(imagem da internet)

                É interessante observar a evolução da pintura medieval que sai de uma pintura plana, chapada, para a representação da profundidade e da perspectiva. A Madonna dell’Umiltá, de Gentile da Fabriano é um exemplo desta evolução.
                Foi Brunelleschi quem inventou a perspectiva que cria a ilusão da tridimensionalidade de uma figura. Ele até publicou um dos primeiros métodos de perspectiva no século 15 e a partir daí a técnica foi incorporada na pintura renascentista.
                A mostra do CCBB propõe uma viagem no tempo, e visitar a exposição acompanhada de alguém que entende do assunto é muito mais interessante. O Hugo destacava em cada pintura e escultura detalhes que passam desapercebidos para pessoas que como eu, embora apreciem, são leigas em arte.
                Alguns dos temas das pinturas da mostra são religiosos outros, mitológicos. Inicialmente, por exigência da igreja católica, as pinturas retratavam apenas os temas religiosos e a pintura de Frá Angelico é um exemplo disto. Os elementos característicos da pintura religiosa são os anjos, as auréolas, os mantos brancos e azuis, a Virgem Maria e o Menino Jesus sempre no centro dos quadros. Já os temas mitológicos retratam os mitos e os mistérios da vida dos deuses, e é uma viagem na cultura clássica Greco-romana. As composições são cheias de fantasia e imaginação e variam de acordo com o pintor e suas crenças.

 Leda e o Cisne
(imagem da internet)

                Botticelli, Rafael e também Leonardo da Vince pintaram tanto os temas religiosos como os mitológicos. Na exposição um dos destaques era “Leda e o Cisne” pintura de Leonardo. O quadro representa Leda, rainha de Esparta, e Zeus, na figura de um belo cisne. O mito representado na pintura é de quando Zeus encantou-se por Leda e para seduzi-la ele se transformou em cisne.  Outro destaque era a “Anunciação” de Bellini e a de Botticelli, ambas representam o Arcanjo Gabriel anunciando para a Virgem Maria que ela seria a mãe de Jesus Cristo, apesar da virgindade.

 Anunciação de Bellini
(imagem da internet)

Anunciação de Botticelli
(imagem da internet)

                No Renascimento o artista procurava narrar uma história com sua pintura, de forma que o espectador, geralmente analfabeto, pudesse entender a mensagem. Os quadros contavam histórias bíblicas e mitológicas que eram compreendidas apenas com o olhar atento.

Os cadeados e os buquinistas das margens do Rio Sena

    As ruas de Paris guardam algumas atrações interessantes que vale a pena serem descobertas...
    Nas margens do Rio Sena, ao longo de 3 km, desde o século XVIII, estão instalados os buquinistas, vendedores de livros usados, cujas bancas pintadas de verde ficam sobre o muro nas duas margens do rio. Eles vendem não só livros, mas também encontramos jornais antigos, revistas em quadrinhos, cartões postais, discos, medalhas, moedas antigas, selos e gravuras de propagandas antigas.
    Com sorte, é possível até garimpar um livro raro numa daquelas bancas. Não custa nada dar uma paradinha e tentar a sorte. Os buquinistas já fazem parte da paisagem de Paris e são um dos mais conhecidos cartões postais da cidade. Aliás, os buquinistas de Paris são patrimônio da humanidade declarado pela UNESCO.

    Comecei meu passeio pela margem do Sena na altura da Catedral de Notre-Dame e fui caminhando sem pressa em direção ao Museu do Louvre. No caminho eu e minhas amigas paramos algumas vezes para dar uma olhadinha nas bancas dos buquinistas que ainda estavam funcionando, pois já estava anoitecendo e a maioria delas já estavam fechadas.

   Na altura da Pont des Arts paramos numa banca para a Maura comprar algumas lembranças. Aproveitamos para fotografar os cadeados que os apaixonados de todas as partes do mundo deixam trancados nas grades da ponte para simbolizar o amor eterno. É uma tradição que ninguém sabe muito bem como começou, mas que acabou virando uma das maiores atrações turísticas da cidade.

    A tradição de trancar o cadeado na ponte com mensagens de amor e jogar a chave no rio além de atração turística virou também um problema para as autoridades. O peso excessivo do metal dos cadeados acaba por afetar a estrutura comprometendo a estabilidade da ponte, provocando rachaduras e colocando em risco a segurança da mesma e, em consequência, das pessoas que por lá transitam. A paixão dos casais virou a dor de cabeça daqueles que cuidam da segurança da ponte, mas qual é o apaixonado está preocupado com a segurança de uma ponte?

Dinard - Festival Britânico de Cinema (texto da Helena)

   



      Chegamos a Dinard em pleno festival de cinema britânico. Ele acontece todos os anos, na primeira semana de outubro e dura 5 dias.


   

 Além dos filmes que participam da competição, o público é convidado para pré-estreias, assim como para retrospectivas e homenagens aos grandes nomes do cinema britânico. Há, também, espaço para filmes franceses coproduzidos por britânicos ou rodados no Reino Unido.





      


    Ao completar 20 anos o Festival de cinema Britânico de Dinard doou uma escultura em bronze de Alfred Hitchcock. O cineasta inglês, mestre do suspense, está agora eternizado na Praia de l’Écluse. Gravata ao vento, olhando assustado o pássaro pousado no seu ombro, como a lembrar-se de um dos seus mais famosos filmes, « Os Pássaros ».
   
   
       
    O festival tem premiado longas metragens que, em seguida, obtiveram sucesso internacional, como Cova rasa (1994), Ou tudo, Ou nada (1997), Billy Elliot (2000), Domingo Sangrento (2002) ou ainda Moça com brinco de pérola (2003) e tem contado com a presença de famosos como Roger Moore, Christopher Lee e Hugh Grant entre outros. O vencedor do festival recebe o Hitchcock de Ouro, o maior prêmio do festival.



        Chegamos em boa hora. A semana estava movimentada. Havia bastante gente nas ruas, filas nos cinemas, bares e restaurantes cheios... tinha até o famoso tapete vermelho, por onde desfilam os astros e estrelas. Maura e Lourdinha tiveram o seu momento de glória, desfilaram no tapete vermelho como verdadeiras superstars.

Fougères - Notre Dame de Marais (texto da Helena)

  
 


        A paróquia de St. Sulpice está intimamente ligada ao surgimento da cidade, por volta do século X. Fica junto ao castelo de Fougères, mas a construção atual é resultado das ampliações ocorridas  ao longo de quase quatro séculos, 1380-1760. 
  

     







   A ligação entre St. Sulpice e Notre Dame des Marais é antiga e envolta em mistério, como tudo na Bretanha. Conta  a lenda  que a estátua da santa, desapareceu depois que o castelo de Fougères foi invadido pelo rei da Inglaterra, Henry II, em 1166, e a capela de Santa Maria, onde ela estava foi destruída.









 Durante a reconstrução da Igreja de St. Sulpice, na virada dos séculos XIII e XIV, a imagem da santa foi reencontrada pelos trabalhadores, que a chamaram de Notre Dame des Marais, referindo-se à terra alagadiça onde eles a acharam.
   
(foto da imagem retirada da internet)    















 
   
      A igreja é imponente e os vitrais são belíssimos. Num deles está retratado o bisavô da mãe do Lionel, todo empertigado, num uniforme azul e longa barba branca. Disse-me ela, com muito orgulho, que ele era o cozinheiro do Napoleão III. 
Gárgulas
          As Gárgulas destinam-se a escoar as águas pluviais dos telhados. Na Idade Média, eram ornadas com figuras monstruosas, humanas ou animalescas. O termo se origina do francês gargouille (gargalo, garganta) ou da raiz gar, engolir, que significaria o gorgulhante som da água ao passar pela gárgula.
          Acredita-se que as gárgulas eram colocadas nas Catedrais Medievais para indicar que o demônio nunca dormia, exigindo a vigilância contínua das pessoas, mesmo nos locais sagrados.



        A França, como é cheia de histórias, não poderia deixar de ter uma para as gárgulas. Conta a lenda, que São Romano, bispo de Ruão, com a ajuda de um prisioneiro voluntário derrotaram "Gárgula", um dragão-do-rio  que vivia nos pântanos de Ruão, afundava os barcos e comia as pessoas e os animais da região. Um dia, o bispo atraiu a Gárgula para fora do rio. Com um crucifixo, e usando seu lenço como cabresto, levou o monstro até à praça principal, onde os aldeões o queimaram até a morte. Restou do monstro apenas a cabeça e o pescoço, que colocaram como enfeite no topo da igreja, como reconhecimento do feito de São Romano..





        Quaisquer que sejam as origens dessas imagens, o fato é que elas têm estado ao lado do homem há centenas de anos e parecem capturar e inspirar sua imaginação até hoje.