Um giro em Aracaju - visitando São Cristóvão

         Fomos conhecer São Cristóvão, primeira capital de Sergipe após sua emancipação da Bahia em 1820. Fundada em 1590 São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do país, atrás de Salvador, Rio de Janeiro e João Pessoa.



A cidade, que ficou quase destruída quando foi invadida pelos neerlandeses em 1634, fica bem próxima de Aracaju, às margens do Rio Paramopama, afluente do Vaza-Barris.  



Tombada pelo Patrimônio Histórico em 1967, e apesar do pouco cuidado e falta de verba por parte do governo, possui um bem conservado centro histórico. Os moradores da cidade, segundo nos explicou um guia local, tentam cuidar da melhor forma possível dos edifícios públicos como a igreja e os museus. 


argola usada para amarrar os escravos

Visitamos a igreja, o Convento  de Santa Cruz ou de São Francisco, a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, a Igreja do Rosário dos Homens Pretos e o Conjunto Carmelita, a Praça de São Francisco e o Lar Imaculada Conceição, entre outros. Fizemos uma viagem ao passado, pois tudo aquilo parecia cristalizado no tempo. A praça estava vazia, deserta... O tempo fechado dava uma aparência triste ao lugar. O guia apontou uma argola de ferro e nos disse que era ali que ficavam amarrados os escravos. Que tristeza! Pensei que a argola servisse para amarrar os cavalos e não gente.




Um giro em Aracaju - Centro histórico - Projeto Tamar - soltura de filhotes de tartaruga

    No segundo dia de nossa viagem, pela manhã, eu e Bárbara fomos conhecer o Oceanário de Aracajú e o Projeto Tamar. Para nossa sorte ficamos sabendo que na tarde daquele sábado iria acontecer mais uma soltura de filhotes de tartaruga. É lógico que visitamos todo o oceanário, que é pequeno, e nos programamos para retornar na parte da tarde para assistirmos a alimentação dos tubarões e outros peixes e também para ver de perto a soltura no mar dos filhotes de tartaruga.


Seguimos para o centro da cidade onde tivemos a oportunidade de conhecer vários prédios históricos bem preservados como o Centro Cultural de Aracaju que, no passado, era a antiga Alfândega. O guia que nos acompanhou no passeio explicou como funcionava aquele prédio no tempo em que abrigava a alfândega e como foi sua restauração, muito bem vinda por sinal, pois o prédio estava caindo aos pedaços e agora mostra todo o esplendor de seus tempos de glória.


Uma das turistas presentes, que crescera em Aracaju, e estava ali visitando o prédio para matar as saudades de seu tempo de infância, teve a oportunidade de rever alguns brinquedos, como o carrossel do Tobias e as bonecas de pano, que ela costumava ver e curtir nos dias de festa na cidade. Dava para perceber a emoção que ela sentia ao ver aqueles objetos tão familiares e que fizeram parte da fantasia de criança dela e das amigas.





A máquina de costura muito antiga trouxe recordações também para mim. Lembrei-me da máquina que minha mãe usava em casa quando eu era criança, herdada da avó de meu pai, onde ela passava horas costurando para confeccionar nossas roupas e também fazendo os véus que as meninas usavam para assistir às missas na capela do Colégio Imaculada Conceição, onde estudei desde o jardim de infância até terminar o Segundo Grau, atual ensino médio. A máquina é uma Singer de pedal muito antiga, mas que até hoje funciona perfeitamente, e está na casa da minha irmã que mora em Minas Gerais.


Visitamos também o Palácio Olímpio Campos onde fizemos outra visita guiada, mas sem direito a fotografias.




     Em seguida fomos para o Mercado Municipal onde almoçamos no restaurante Caçarola e provamos o prato chefe da casa que é o Camarão de Cueca, muito gostoso por sinal. Pena que o vento muito forte esfriava a comida muito rapidamente. O mercado é um lugar incrível, com muitos produtos regionais, esculturas em terracota, toalhas e roubas bordadas e delicadas rendas renascença. Vale a pena uma visita.


Por volta das 16 horas voltamos ao Projeto Tamar para assistirmos de perto a alimentação dos peixes e tubarões e, para nossa sorte e alegria, vermos de pertinho como funciona a soltura das tartaruguinhas.


Nossa primeira parada foi no tanque do tubarões lixa. Eram quatro tubarões vindo até a borda do tanque para receber o alimento dado pela cuidadora. Depois de bem alimentados a cuidadora perguntou se alguém gostaria de acariciar um tubarão e, é lógico, entrei na fila para sentir de perto como deve ser o encontro do homem com um bicho tão temido como o tubarão. Minha filha, muito preocupada, sugeriu que eu fizesse a carícia com minha mão esquerda mas eu disse que não. Na dúvida, se o animal resolvesse atacar, era melhor que fosse a mão problemática e não a mão esquerda que funciona perfeitamente. Se era para preservar, o melhor é cuidar do que funciona bem. Ela acabou rindo e relaxou para também entrar na fila e experimentar  acariciar um tubarão.


Quando chegou minha vez fiquei bem atenta àquele bicho tão temido, com uma boca enorme que ocupava toda a frente de sua cara larga, e com olhos tão pequenos e redondos. Não me pareceu perigoso, e o toque naquela pele grossa e áspera não foi suave. Deve ser por isto que seu nome é tubarão lixa, pois sua pele é áspera e desagradável como o toque em uma lixa. Mesmo assim gostei da experiência que nem foi tão assustadora assim, já que aquele tipo de tubarão é tranquilo e não costuma atacar.


No tanque onde fica a arraia a alimentação estava bem mais animada e uma multidão se aglomerava em frente as janelas de vidro. Uma criança gritava tão excitada que chegava a doer meus ouvidos. A arraia quase pulava fora do tanque para pegar o alimento espetado num pedaço de pau, espalhando água para todos os lados. Era uma festa e uma verdadeira confusão de peixes grandes e pequenos disputando o alimento jogado do alto do aquário, pela cuidadora.
Perto da hora programada para a soltura dos filhotes de tartaruga uma multidão estava aglomerada em frente a lojinha do projeto aguardando a hora de seguir para a praia para assistir a soltura das tartaruguinhas. Dava para sentir a excitação das pessoas que já estavam emocionadas apenas em pensar como seria ver aquilo de perto. Um dos monitores orientava a multidão falando no megafone e quando a cuidadora chegou com a caixa cheia de filhotes começou a corrida até a praia. Parecia uma maratona e no meio do caminho eu, e toda a galera, já estávamos com a língua de fora tamanha era a correria. Finalmente chegamos no local da soltura que já estava demarcado com uma corda para evitar que as pessoas se aproximassem dos filhotinhos causando algum acidente.







A jovem e seu ajudante iam tirando os filhotes de dentro da caixa de plástico e colocando todos na areia. Eles começavam a andar freneticamente em direção a praia, mas as ondas os traziam de volta para a areia. Os cuidadores pegavam novamente os filhotinhos e os levavam para mais próximo da água até que todos desapareceram nas ondas. Torci para que mais de um daqueles filhotes conseguisse chegar na idade adulta e retornar para aquela mesma praia. Tomara que a natureza cuide deles com carinho e que nós, chamados humanos, tenhamos mais cuidado na preservação do meio ambiente evitando jogar tanto lixo no mar.

Um giro em Aracaju - Parque dos Falcões

     Bárbara e eu fomos conhecer o Parque dos Falcões com o William, o taxista que contratamos, no penúltimo dia de nossa viagem. A empresa de turismo Crystal Tour, que nos levou para conhecer o Cânion do Xingó, sequer nos ligou para dizer que não iriam fazer o passeio, como haviam combinado. Suponho que não tenham conseguido o mínimo de quatro pessoas para justificar a saída de um carro, mas também acho que não custava nada ter ligado avisando que não iriam fazer o passeio conosco. Ainda bem que conhecemos o William que fez um bom trabalho e nos cobrou um preço justo (e bem mais barato do que a agência cobraria).

Percílio e a Tito

O Parque dos Falcões fica nos arredores da cidade de Itabaiana, mais conhecida como a cidade do ouro, dos caminhões e, como insinuou o William, dos matadores... As estradas que utilizamos no Sergipe eram muito boas e bem conservadas, mas para chegar no sítio onde fica o parque foi necessário pegar um pequeno trecho de estrada de chão. O William nos disse que aquela área é preservada e por isto a estrada não pode receber nenhum tipo de pavimentação.

Harpia

Assim que entramos no parque fomos encaminhados para um auditório onde foi apresentado um vídeo sobre o trabalho com as aves de rapina, desenvolvido pelo Percílio. Ele é  uma  pessoa carismática e muito simpática, que tem um amor incondicional pelas aves e outros animais que circulam pelo sítio. O Percílio é uma figura! É uma pessoa encantadora. Adorei o Percílio.

Urubu Rei

A história dele com as aves começou muito cedo, quando ele tinha mais ou menos 7 anos e ganhou um ovo de carcará que colocou para chocar em uma galinha. O carcarazinho nasceu e os dois se tornaram inseparáveis.  O Percílio nos disse que tudo o que ele sabe sobre as aves ele aprendeu com o Tito que, na realidade, é a Tito pois é uma carcará fêmea e não um macho como se pensou inicialmente. A Tito já está com 30 anos de idade, mas mantem a mesma aparência e vitalidade de um pássaro jovem. Ela nunca aceitou nenhum macho e acho que vê o Percílio como seu parceiro. Os pássaros são fiéis aos parceiros.

Carcará

O Percílio nos disse que aprendeu tudo o que sabe sobre as aves com a experiência própria e a observação cuidadosa (ele tem a alma de um pássaro). Ele fala a linguagem delas e um entende o outro perfeitamente. As aves amam o Percílio e a recíproca é absolutamente verdadeira.


Coruja orelhuda

  O Parque dos Falcões possui mais de 300 aves (e todas atendem pelo nome). O  carcará chamado Psicopata, por exemplo, costuma dar voos rasantes e bicar a cabeça dos intrusos no parque. Algumas das aves vivem soltas mas nunca vão embora porque sabem que lá é um refúgio seguro. Outras vivem semisoltas e voam apenas para se exercitarem e manter o peso. Algumas vivem permanentemente em cativeiro porque não têm condições de viver em liberdade. É que, por maus tratos do homem cruel e insensato,  as pobrezinhas perderam suas asas ou os pés. Uma maldade. O Percílio nos contou que algumas aves chegam em suas mãos tão traumatizadas e feridas que o trabalho de reabilitação torna-se bastante difícil. Só mesmo muito amor e cuidados consegue resgatar estas belas aves de rapina e devolver-lhes um mínimo de dignidade e vida selvagem. Ele nos mostrou, por exemplo, um belo gavião que recebeu um tiro de chumbinho na cabeça e isto provoca epilepsia na ave. Quando as crises acontecem ele coloca música e acaricia a ave que aos poucos vai voltando ao normal.  Outro pássaro em cativeiro, e que já reproduziu várias vezes, é uma rara coruja orelhuda que perdeu uma das asas. Aliás, no viveiro onde ela está havia dois ninhos com filhotes recém nascidos. O Percílio é realmente uma pessoa muito abençoada. Oxalá outros Percílios apareçam pelo mundo.



Vimos corujas pequeninas e com uma aparência tão frágil que dava vontade de fazer um carinho. Outras grandes, com olhos amarelos, redondos e atentos, e garras tão poderosas,  que chegava a dar medo. A harpia enorme e linda, que um dia voou pelos céus dos Andes, foi resgatada muito maltratada e agora, já reabilitada, estava se deliciando com um banho de água fresquinha. Ela está aguardando um parceiro, também resgatado, que chegará em alguns dias no santuário. Vimos urubus rei, águias,  carcarás,  falcões, corujas, pombos e muitas outras aves. Tinha até um falcão peregrino, típico dos Estados Unidos, que se acidentou e não conseguiu mais voar porque quebrou a asa. O falcão peregrino é uma das aves mais rápidas do mundo. Ele consegue atingir a incrível velocidade de mais de 300 Km por hora. 

Urubu albino


O Percílio nos contou muito triste que há alguns anos havia no santuário um urubu albino muito raro que foi roubado e morto por biólogos. Dá para acreditar? Ele conseguiu outro urubu albino que está em cativeiro porque não conseguiria sobreviver solto na natureza. As penas brancas não resistem ao sol.


Acreditam que o Percílio desenvolveu um método de implante de penas?  Pois é, ele implanta penas naquelas aves que perderam as suas por maus tratos. O cara é um gênio do bem. Abençoado Percílio. Ele consegue induzir até 4 cios por ano em algumas aves em risco de extinção. Muitas aves conseguem se reproduzir com os cuidados que recebem no santuário. Algumas são soltas na natureza e outras são enviadas para centros que cuidam de aves de rapina.


A apresentação do vôo da águia é muito legal e é o ponto alto do passeio. Atendendo ao comando  a ave começa a voar e voa tão alto que só vemos um pontinho no céu, depois ela desce feito um corisco para pousar suavemente no braço do Percílio. Ele acaricia a ave que torna a voar e solta seu grito agudo e característico. É lindo! Tudo é feito com muita cumplicidade e carinho entre a ave e seu cuidador.


O Percílio apresentou um carcará bem bravo que, nas mãos dele, fica dócil como um cordeirinho. Ele me chamou e colocou o pássaro em meus braços como um bebezinho. A ave fechou os olhinhos e ficou bem tranquila. O percílio mandou que ela abrisse o bico e pediu que eu colocasse o dedo dentro do bico. Fiz o que ele mandou sem o menor receio de que a ave fosse travar aquele bico poderoso em meu dedo. Confiei no Percílio tanto quanto as aves que ele cuida confiam nele. Ele tem o poder de nos fazer acreditar. Santo Percílio. Fiquei emocionada, pois adoro aves de rapina e nunca me imaginei segurando um carcará vivo nas mãos. Uma experiência incrível! Depois, o Percílio e seus ajudantes pegaram outras aves e todas as pessoas presentes puderam segurar cada uma delas nas mãos. As crianças ficaram maravilhadas com a oportunidade de pegar um pássaro nas mãos. Eu parecia uma criança também.


Valeu cada minuto do passeio no Parque dos Falcões. É muito bom conhecer pessoas que se importam com os animais e cuidam deles com tanto amor. O Percílio nos mostrou um pavão solto no quintal que se apaixonou por uma galinha de angola e o produto deste amor, uma ave que ele chama de mutante. É uma curiosa mistura de pavão com a galinha pintadinha. Muito interessante: é grande como uma fêmea de pavão e pintadinha como a galinha de angola. Coisas do Percílio. Que nome podemos dar a este ser mutante? Pavangola?

pavão e pavangola?


Minha cachorra de estimação

        Minha cachorra está velhinha, cega de um olho, com problemas de saúde, chatinha e implicante mas, apesar de tudo, continuo gostando dela do mesmo jeito que eu gostava quando ela era apenas um filhotinho fofo e engraçado. A recíproca, tenho certeza, é mais verdadeira ainda. Ela me ama incondicionalmente, confia demais em mim e depende de meus cuidados.


Toda manhã ela espera pacientemente que eu a leve para fazer xixi enquanto damos uma voltinha pelo jardim da Quadra. Quando abro a porta da área de serviço ela sai correndo toda feliz pelo corredor do cobogó, mas no meio do caminho, ela dá uma paradinha e olha para trás para se certificar de que estou mesmo indo em sua direção e me espera um pouquinho antes de recomeçar sua corrida até o elevador.



Nestes momentos fico imaginando o desespero que um animal sente quando se vê abandonado pelo seu dono. Não tenho dúvidas de que é uma covardia e uma tremenda maldade abandonar um bichinho indefeso e que confia tanto na gente.



Ninguém tem a obrigação de criar um gato, um cachorro, um passarinho ou seja lá o bicho que for mas, se o fazemos, temos o dever de cuidar bem daquele animal até o último dia de sua vida. Penso que não devemos fazer com o outro (racional ou irracional) aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco.

Retomada do protocolo com a doxo e sintomas diversos

     Recomecei a quimioterapia com a Doxo que eu havia interrompido há quatro meses por causa dos efeitos colaterais indesejados. O Dr. Fernando optou por retomar a mesma medicação porque, segundo ele, apesar dos efeitos colaterais, o PET evidenciou que a doença avançou pouco. Sinal de que a medicação fez o efeito esperado, apesar dos problemas que tive como a síndrome pés e mãos.
     Fiz o primeiro ciclo no dia 19 de novembro e desde então não tenho me sentido muito bem. Os sintomas são vários:  enjôo, muita fraqueza, gazes e intestino solto, sono ruim e outras coisas. Fico cansada por muito pouco e caminhar torna-se penoso porque parece que o corpo está muito pesado apesar da magreza. Outro sintoma, que me atormentou quando iniciei o tratamento em 2007, voltou a me incomodar: engasgo muito, principalmente com a saliva, e comer torna-se um tormento por causa da tosse. Fico rouca e minha voz oscila ficando quase inaudível.
    Os hormônios da tireóide continuam malucos: agora o TSH está novamente lá em cima, indicando um hipotiroidismo, mas no mês passado estava lá embaixo indicando um hipertiroidismo. Ele não se decide como ficar, e me deixa acabada com os sintomas. Por conta desta gangorra  clínica preciso fazer exames de controle mensalmente e mudar a dosagem do remédio todo mês.
     A Dra. Carol também suspeitou de giardíase, por causa de alguns sintomas, que não fazem parte do protocolo da doxo. Já usei a medicação para acabar com o protozoário, e estou terminando de tomar antibióticos hoje, por causa de uma inflamação em curso que deixou meus leucócitos nas alturas. Haja paciência para aturar todo o mal estar que acompanha tudo isto. Só espero que no final das contas o resultado seja promissor e eu possa comemorar um pouquinho.

Caminhadas pelas quadras de Brasília

     Gosto de caminhar pela manhã, enquanto o sol ainda está fresco e a cidade acordando. Os comerciantes abrem as portas de seus estabelecimentos  com  grande ruído e os empregados chegam tagarelando, na maior animação para começar mais um dia de labuta. Os ambulantes montam suas barracas nas calçadas e os feirantes  organizam seus produtos nas mesas e caixotes de madeira. A rotina se repete todos os dias da semana.
      Sempre levo minha mãe, que já está com 88 anos, e a Haseena, nossa poodle velhinha e cheia de problemas de saúde, para as caminhadas. Andamos devagar pela quadra, aproveitando as sombras das árvores frondosas que enfeitam os jardins. Gostamos de observar o desabrochar das flores e os inúmeros pássaros que vivem nos arredores. São tantas sabiás cantando para alegrar o dia que nasce, o simpático joão de barro que dá três passinhos e uma corridinha curta pelo gramado, os negros anus bicando o chão em busca de algum petisco e alguns outros pássaros que sequer sei os nomes. Eles tornam nossas caminhadas mais interessantes e divertidas.
Ao longo do caminho sempre encontramos alguém indo ou vindo em nossa direção. São pessoas que caminham apressadas para chegar em seus locais de trabalho, alguns idosos que moram nos apartamentos vizinhos que caminham com seus cuidadores ou são levados em suas cadeiras de rodas, algumas outras que, como eu, caminham com seus cachorros de estimação.
Gosto de observar as pessoas e acabei, com o tempo, aprendendo a acertar quem irá nos cumprimentar ou responder ao nosso cumprimento de bom dia, quem vai ignorar e simplesmente seguir adiante e quem vai fingir que não nos vê. Acho divertido observar a diversidade humana e seus humores. Algumas pessoas cumprimentam com tanto entusiasmo que parecem nos conhecer de longa data, outras até param para bater um papinho enquanto outras passam duras, sem olhar para os lados, quase emburradas, ensimesmadas... O que será que lhes corrói a alma?
A Haseena quase atrapalha nossa caminhada. É que ela quer cheirar tudo e para a todo instante conferindo alguma coisa diferente ou apenas para fazer um xixi e marcar território. Ela enfia o focinho, sem o menor cuidado ou cerimônia, em todo lugar  e foi assim que ela acabou furando o olho direito numa cerca viva e ficando cega. Como ela viveu muitos anos em casa e reinava sozinha como cachorro ela se acha a rainha da cocada preta e late para qualquer cachorro que cruze nosso caminho. É uma chata, mas gostamos muito dela assim mesmo.



Caminhar pelas quadras em Brasília é um exercício muito bom, mas precisa ser feito com muito cuidado. É que a cidade está muito mal cuidada, as calçadas estão quebradas e cheias de buracos e tem lixo para todo lado. Agora, com a chegada da chuva, o mato está tomando conta dos canteiros e as folhas caídas das árvores enchem os bueiros e ajudam a causar alagamentos. Uma tristeza ver a capital da república nesta sujeira e abandono. Retrato de um país atolado na lama da corrupção