Homenagem às Mulheres

Hoje o almoço foi especial não por causa do cardápio ou da bebida, mas porque foi entre amigos. A comida estava deliciosa, pois a Inês caprichou no salmão ao molho de maracujá e no salmão com uma crosta crocante de hortelã e parmesão ralado; o prato de carne vermelha era boeuf bourguignon. De sobremesa foi servido peras ao vinho que fez o maior sucesso e quando a torta de morango foi colocada sobre a mesa quase ninguém se animou a provar mais nada e a coitada foi solenemente rejeitada.
A Suely, para variar, animou a conversa, fez todos darem muitas risadas e ainda recitou de cor alguns poemas do Vinícius. Vou transcrever aqui alguns trechos do poema O Desespero da Piedade em homenagem as mulheres, no dia a elas dedicado, na próxima segunda-feira.
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E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
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Tende piedade da moça feia que serve na vida
E casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta - que o homem não presta, não presta, meu Deus.
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Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco da nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes, mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade
E outra, a simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
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2 Responses
  1. Lili Says:

    Concordo apenas com a última estrofe, e tô fora: eu quero muita coisa, mas piedade não, piedade não!!!!!


  2. Loulou, minha mãe falou do deliciosoooo almoço. E eu adorei o poema! Beijo!


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou