Dor é coisa complicada, que deprime e angustia. Acho que ninguém consegue lidar bem com ela. Algumas pessoas até se tornam dependentes de remédios para alcançar alívio para suas dores físicas ou emocionais. Já faz algum tempo que escrevi esse texto, mais de dois anos, quando as dores fortes eram companheiras quase que diárias.
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Qual a dor mais doída? Cada um, na sua experiência individual, dará uma resposta diferente. Alguns dirão que é a dor de dente, a dor do parto, a dor que se sente ao tentar expelir uma minúscula pedrinha pela uretra. São várias as dores e diferentes suas intensidades.
O que vale de fato é a dor atual, seja ela física, emocional ou moral. Vocês já pararam para observar como dói um coração partido? É quase uma dor física. Dói lá na alma ver partindo a pessoa que amamos, ver os filhos alçando vôo e saindo debaixo de nossas asas protetoras para ganhar o mundo; dói ver o namorado, o marido, o amante saindo de nossas vidas; qualquer um que nos é caro faz doer o coração na hora da partida...
Alguém se lembra daquela topada no dedão do pé? Ai, como dói. Arrancou a tampa do dedão, sangrou pra caramba e até impediu o uso de sapato fechado por um tempão. Qual da criança ou adulto já não passou por uma experiência dessas?
Uma tentativa desastrosa fez um corte profundo no dedo. Ai que horror, parece que todo o sangue do corpo vai escapar por aquele corte. As lágrimas rolam sem cessar. O choro faz o corpo sacudir por inteiro. E aquele cortinho ridículo com folha de papel? Quer alguma coisa mais minúscula e que arde mais? Às vezes nem enxergamos o corte, mas sentimos à beça o seu ardido.
Pois é, dor é uma experiência individual. Não dá para dizer que sua dor é maior ou menor do que a do outro. E o pior é que a dor é invisível. Ninguém vê a dor. Só quem está sofrendo é que a sente. Fraca ou forte, súbita ou ameaçadora, ela é absolutamente invisível.
Sempre tive medo da dor física e ela tem sido, nos últimos tempos, uma desagradável e constante companheira. Às vezes ela dá um sinal e escapa como um ladrão furtivo deixando-me apreensiva. Outras vezes ela se instala sorrateira e acha que é a dona do pedaço. Quando ela surta vem louca como uma locomotiva desgovernada e aí, sai de baixo, ela me joga no chão como um trapo velho... Ela grita alto que é ela quem está no comando. Será verdade? Tenho certeza que não, mas é necessário um tremendo autocontrole para não perder a sanidade, porque a dor desorienta e deprime...
Há pouco tempo, quando uma dor desembestada tomou conta do meu corpo e me levou para a UTI pude refletir um pouco. Enquanto meus gritos e ais cortavam o espaço, vários médicos, enfermeiros e atendentes tentavam ajudar-me ministrando potentes drogas que aos poucos fizeram meu corpo entorpecer e a dor foi cedendo. Depois de um sono reparador, já desperta, pude observar outras pessoas à minha volta e outros gemidos. Agradeci silenciosamente a Deus pelo convênio médico que me ampara com um atendimento tão eficiente. Agradeci a toda equipe médica que não poupou esforços para tentar resolver meu problema e me senti afortunada. Agradeci todos aqueles cientistas que no isolamento de um laboratório conseguiram desenvolver drogas tão eficientes. Que Deus os abençoe.
Tenho que reconhecer que embora esteja atravessando um pântano escorregadio e escuro consigo vislumbrar raios de luz que me orientam para a saída. Sei que essas luzes vêm das orações dos amigos e da família, do amor de cada um deles. Só posso ser uma criatura abençoada e muito amada. Ele me dá a prova, mas permite o auxílio de tantas pessoas especiais ao longo do percurso. Sei que depois da curva escura existe uma saída repleta de sol e estou caminhando naquela direção. Sei que poderei tropeçar algumas vezes e até mesmo cair, mas tenho certeza de que serei capaz de levantar tantas vezes quantas forem necessárias. O amor e a amizade são remédios eficazes, que curam toda e qualquer enfermidade, toda e qualquer dor.
Mas seja lá como for dor é dor e pronto. E aí, qual a dor mais doída?