Invasão de Privacidade
quarta-feira, dezembro 23, 2009
Precisei entrar em seu quarto, abrir seus armários, mexer em suas coisas. Tirei tudo do lugar, conferi todos os papéis e documentos, separei suas roupas, os presentes nas embalagens, os perfumes ainda embrulhados. Esvaziei suas bolsas pesadas, cheias de objetos usados em seu trabalho de médica neurologista. Mexi em tudo e me senti violando sua intimidade, expondo seus segredos...
Confesso que foi desconfortável, não tive prazer no que fiz, mas foi preciso, não havia como adiar aquela tarefa.
Em seguida fui para o escritório. Seus livros de estudo, quietos nas prateleiras, estão se enchendo de poeira. Por hora eles não podem cumprir seu papel. Dois vestidos que você usava ainda estavam pendurados num cabide apoiado numa estante. Na escrivaninha precisei abrir as gavetas e remexer em tudo procurando documentos que ninguém tinha certeza se realmente existiam. Não encontrei nada relevante, apenas alguns antigos cartões de natal guardados numa caixa e que descartei como um lixo qualquer. Que sensação horrível. O que lhe era caro foi jogado fora como coisa sem valor. Encontrei um monte de blocos de receituário controlado que precisei destruir, pois não serão mais usados por você ou qualquer outro médico. Suas anotações de estudos médicos também foram parar no lixo e não consegui deixar de pensar o quanto de conhecimento acabou desaparecendo com você.
Na mesinha de cabeceira encontrei uma palavra cruzada já começada. Reconheci sua letra, mesmo escrita com uma mão trêmula e vacilante, que não possuía mais a firmeza de tempos passados. Essa resolvi guardar comigo, pois sabia que ninguém iria se interessar por um bloco de palavras cruzadas.
Terminada a tarefa fiquei ali parada, olhando para tudo aquilo que fora seu. Uma emoção estranha tomou conta de mim. Todas as coisas que lhe foram tão úteis, que lhe deram prazer, que lhe eram caras estavam ali separadas e parecendo tão sem sentido... Suas roupas, suas bolsas, seus cintos e sapatos serão doados para caridade. Seus livros, na melhor hipótese, irão parar em um sebo. Suas coisas pessoais, suas cartas e anotações saíram de cena como você.
Quando a noite chegou, já cansada acabei dormindo em sua cama. Eu tinha a sensação de que você poderia chegar a qualquer momento pisando firme e fazendo barulho com o salto do sapato. Sua voz parecia ecoar no fundo da minha memória e era difícil acreditar que nada disso poderia acontecer jamais porque você partiu para sempre pegando todos de surpresa. Partiu sem dizer adeus.
Confesso que foi desconfortável, não tive prazer no que fiz, mas foi preciso, não havia como adiar aquela tarefa.
Em seguida fui para o escritório. Seus livros de estudo, quietos nas prateleiras, estão se enchendo de poeira. Por hora eles não podem cumprir seu papel. Dois vestidos que você usava ainda estavam pendurados num cabide apoiado numa estante. Na escrivaninha precisei abrir as gavetas e remexer em tudo procurando documentos que ninguém tinha certeza se realmente existiam. Não encontrei nada relevante, apenas alguns antigos cartões de natal guardados numa caixa e que descartei como um lixo qualquer. Que sensação horrível. O que lhe era caro foi jogado fora como coisa sem valor. Encontrei um monte de blocos de receituário controlado que precisei destruir, pois não serão mais usados por você ou qualquer outro médico. Suas anotações de estudos médicos também foram parar no lixo e não consegui deixar de pensar o quanto de conhecimento acabou desaparecendo com você.
Na mesinha de cabeceira encontrei uma palavra cruzada já começada. Reconheci sua letra, mesmo escrita com uma mão trêmula e vacilante, que não possuía mais a firmeza de tempos passados. Essa resolvi guardar comigo, pois sabia que ninguém iria se interessar por um bloco de palavras cruzadas.
Terminada a tarefa fiquei ali parada, olhando para tudo aquilo que fora seu. Uma emoção estranha tomou conta de mim. Todas as coisas que lhe foram tão úteis, que lhe deram prazer, que lhe eram caras estavam ali separadas e parecendo tão sem sentido... Suas roupas, suas bolsas, seus cintos e sapatos serão doados para caridade. Seus livros, na melhor hipótese, irão parar em um sebo. Suas coisas pessoais, suas cartas e anotações saíram de cena como você.
Quando a noite chegou, já cansada acabei dormindo em sua cama. Eu tinha a sensação de que você poderia chegar a qualquer momento pisando firme e fazendo barulho com o salto do sapato. Sua voz parecia ecoar no fundo da minha memória e era difícil acreditar que nada disso poderia acontecer jamais porque você partiu para sempre pegando todos de surpresa. Partiu sem dizer adeus.
Acho mto interessante a forma como vc descreve as coisas, como vc coloca em seus textos, vc transmite pra gente realmente o q ta sentindo, nos transporta exatamente pro local onde as coisas estao acomtecendo, nos descreve em detalhes, nos faz imaginar cada detalhe do q vc viu e de como as coisas estao...
Sensibilidade nao e pra qq um FATAO!
Pena não encontrarmos a pessoa que amamos nas coisas que procuramos dela.
Mas as lembranças imateriais são eternas, imperecíveis. E são as que valem de verdade.
Beijos, tia. Força para vc neste momento difícil.