2º ciclo do Halaven - queda do cabelo

     Ontem fiz o terceiro ciclo do halaven. Eu não quis saber antecipadamente sobre os efeitos colaterais da nova medicação para não correr o risco de ficar sugestionada e começar a sentir coisas desnecessariamente. Prefiro ir observando as reações do meu corpo por mim mesma e a primeira que se fez sentir, logo depois do primeiro ciclo, foi a queda de cabelo.

     Tenho muito cabelo e, apesar de curto, via fiapos caídos por todos os lados: nas minhas roupas, na minha cama, no box do banheiro... Acho sinceramente que pior do que ficar careca é ver o cabelo caindo sem parar, emporcalhando tudo a minha volta.

     Ontem, antes de começar a quimio, perguntei para minha médica se a queda do cabelo era um dos efeitos colaterais da nova medicação e ela confirmou. Fiz o terceiro ciclo e fui para casa almoçar e então, a gota d'água para eu tolerar a queda de cabelo com a paciência de um Jó, foi ver um tufo de cabelos caindo no prato que eu estava comendo. Decidi naquele momento que iria passar máquina zero e cortar tudo de uma só vez.

     Lido bem com minha careca e isto não me faz sofrer então, raspar tudo, não é nenhum problema para mim. Minha filha ainda brincou enquanto passava a máquina e foi fotografando o processo. Primeiro ela fez um moicano e por último passou a máquina zero deixando somente um toquinho que passará quase desapercebido quando cair.

     Aprendi a lidar com as limitações que a doença me impõe, sem fazer disso um problema maior do que o necessário. Prefiro ser feliz com o que tenho nas mãos e desapegar daquilo que não posso mais ter. Por exemplo: sempre amei usar sapatos altos e elegantes, mas depois que quebrei o pé e a fratura nunca mais consolidou devidamente e eu não posso fazer cirurgia por causa dos remédios que uso acabou a festa com sapatos altos, agora só posso usar botinão e tive que me adaptar. Criei um novo estilo para mim.  Quando uso vestido e botinão me sinto a própria Minnei Mouse. Ridícula, mas fazer o quê?

Um giro em Foz do Iguaçu - Cataratas do lado Argentino

     A fronteira do Brasil com a Argentina estava bastante concorrida e levamos um tempinho para atravessar.   Nosso ônibus estava cheio e todos pareciam ansiosos para ver de perto a famosa Garganta do Diabo, eu inclusive, e como o tempo estava bom e o sol dava o ar de sua graça, depois de muita chuva desde nossa chegada, o passeio prometia.


     Fizemos uma trilha até uma estação de trem mas, como o trem havia acabado de partir, fizemos outra trilha um pouco mais longa, de pouco mais de 1000m,  até a Estação Cataratas. Aguardamos um pouco e logo chegou outro trem que nos deixou perto da saída da trilha com acesso a Garganta do Diabo. Tudo muito bem estruturado, com passarelas construídas sobre o Rio Iguaçu, e em condições até para cadeirantes desfrutarem o passeio. Olha que legal!







     Quase todo o trajeto pode ser feito na sombra, sob a copa das árvores. É uma caminhada longa, mas vale muito a pena porque as cataratas são um espetáculo que só dá para entender vendo de perto, sentindo as gotículas da água das quedas, que sobem e pulverizam tudo ao redor como um spray gigantesco, molhando  todos os turistas maravilhados com aquele espetáculo da natureza quase selvagem. Fica até difícil fotografar, mas a visão daquele volume d'água caindo com estrondo e desaparecendo num buraco sem fundo é de tirar o fôlego.




Olha só o spray gigante que mencionei acima

     Ficamos um bom tempo curtindo a beleza das cataratas, ouvindo o rugido daquele volume d'água gigantesco, aumentado pelas chuvas dos últimos dias, e acobreado pela ação do assoreamento, culpa da ação do homem que destrói a proteção das árvores nas beiras dos rios.


     Quando aquela nuvem fininha sobe daquele buraco profundo e é carregada pelo vento até as passarelas onde ficam os turistas é uma festa. Todos tentam se abrigar sob suas capas de plástico, seus guarda-chuvas e não adianta quase nada, mas vale a pena ficar encharcado. É uma visão única. Emocionante.


     Voltamos pela mesmíssima trilha, pegamos o trem novamente e paramos num espaço com restaurante e lanchonete. Depois do almoço (ou lanche para quem preferir)  fazemos outra trilha, desta vez mais acidentada e cheia de degraus, muitos degraus.


     São duas trilhas: uma mais longa, com mais de 2 km e com uma visão muito mais bonita, chamada circuito inferior, e outra mais curta, de aproximadamente 700 m. No final do circuito você fica quase embaixo da queda d'água e se molha todo, mas é incrível. Lindo demais! Não consegui fotografar com tanta água espirrando para todos os lados. Fiquei ensopada, mas faria tudo novamente só para ter aquela visão fantástica de belezas que só a natureza é capaz de proporcionar.



Um giro em Foz do Iguaçu - Parque das Aves

     Pela manhã visitamos a Usina de Itaipu e depois do almoço fomos conhecer o Parque das Aves,  criado em 1994 pelo casal Dennis e Anna Croukamp, em um espaço de 16 hectares de floresta subtropical, próximo ao Parque Nacional do Iguaçu e das cataratas.


     Anna, que é médica veterinária, foi quem definiu o espaço ideal para construção dos viveiros no parque e as trilhas na mata que os ligam. A construção do parque foi um trabalho árduo porque foi necessário remover do terreno todo tipo de detrito e também toda espécie invasora e plantar centenas de árvores nativas. Assim começou a tomar forma o parque como o conhecemos hoje.


     As primeira aves a chegar ao parque foram doações ou empréstimos de zoológicos brasileiros, e também animais confiscados enviados pelo Ibama. Hoje o parque conta com mais de 1000 aves de mais de 130 espécies.


     O Parque das Aves, que hoje funciona também como instituição de pesquisa e conservação, toca vários projetos voltados para conservação de aves ameaçadas de extinção. Exemplo disto é o projeto que visa reintroduzir na região de Foz do Iguaçu a arara-vermelha-grande que está extinta na região e cada vez mais rara no Paraná.


     Outro projeto interessante é o Projeto Tucano, uma das aves mais caçadas e traficadas no país. O parque é um lar para tucanos feridos, debilitados e vítimas de maus tratos. O Parque das Aves abriga o maior plantel de tucanos em exibição no mundo. 


     A equipe do parque conseguiu desenvolver uma dieta especial para manter uma alimentação saudável para os tucanos que são muito sensíveis ao excesso de ferro na dieta. Eles também conseguiram a reprodução da espécie em cativeiro. Aliás, tivemos a oportunidade de ver vários filhotes que eram muito fofos, com seus bicos enormes.


     Conhecemos vários viveiros que abrigam pássaros vítimas de maus tratos, sem condições de viver em liberdade porque estão mutilados ou foram criados em gaiolas tão pequenas e nunca aprenderam a voar. Vi, por exemplo, um tipo de papagaio que estava sem penas no pescoço e que na tentativa de mudar de galho para comer acabou caindo no chão. Perguntei a cuidadora se era um filhote e ela me explicou que não. Ele era de porte pequeno e tinha sido vítima de traficantes que arrancaram suas penas do pescoço para vendê-lo como filhote. Uma judiaria. O ser humano é podre.


      O parque também conta com um borboletário. Várias espécies de borboletas em suas várias etapas de crescimento estão lá. A Bárbara, minha filha, teve coragem, para minha surpresa, de pegar uma enorme lagarta na mão. Esta lagarta dá origem a uma borboleta azul linda, mas só consegui fotografá-la de asas fechadas, mas mesmo assim ela é bonita demais.



     Também tivemos a oportunidade de nos aproximar de uma cobra linda. Ela ainda é jovem e costuma comer 4 ratos a cada 15 dias. Achei bem pouca comida para uma cobra tão grande, mas foi o que o funcionário nos informou.


     O Parque da Aves desenvolve um belíssimo trabalho de reabilitação de animais vítimas de maus tratos e traficados. Aqueles em condições são devolvidos a natureza, os demais são mantidos no parque em ambientes que proporcionam conforto e proteção. Vale a pena uma visita.

Um giro em Foz do Iguaçu - Itaipu Binacional

     Acordamos cedo para o passeio na Usina de Itaipu. Inicialmente assistimos a apresentação de um filme, no Centro de Visitantes, contando a história da construção da usina, e em seguida fizemos o passeio de ônibus que leva os turistas a dois mirantes de observação. Desses pontos de observação o turista tem uma ampla visão da usina e do imenso parque que a cerca. O passeio termina quando o ônibus passa sobre a barragem que tem uma altura de 196m e 15m de espessura na base, de puro concreto.


     Das curiosidades que ouvimos sobre a usina, uma que chamou a atenção foi saber que a vazão máxima do seu vertedouro é 40 vezes superior a vazão média das cataratas do Iguaçu (1500 metros cúbicos por segundo) que já deixa qualquer um impressionado. Pensar que Itaipu consegue ser 40 vezes superior ao volume de água que vimos caindo nas cataratas impressiona qualquer pessoa. Tudo na usina é monumental.

   
     A Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional (Brasil e Paraguai) é uma das maiores obras de engenharia moderna e é a maior hidroelétrica em produção do mundo.




     Existem vários tipos de passeio na usina, e o que fizemos foi o tour panorâmico. Os outros passeios são o circuito especial, o refúgio biológico, e o Ecomuseu dentre outros.
       Dos vários bosques cheios de árvores jovens e adultas, que circundam a usina, ficamos sabendo que o funcionário que completa 15 anos de trabalho na usina planta uma árvore que recebe uma plaquinha com seu nome. Olha só que legal!

Um giro em Foz do Iguaçu - Cataratas do Iguaçu

     Após o primeiro ciclo do Halaven minha imunidade caiu e o médico plantonista, inicialmente, achou melhor que eu não fizesse o segundo ciclo na data prevista para que desse tempo do próprio corpo se recuperar. Acontece que na semana seguinte eu iria viajar para Foz do Iguaçu e não poderia fazer quimioterapia então ele acabou liberando o segundo ciclo na data correta mas prescreveu o Neulastim para melhorar a imunidade e para que eu pudesse viajar com segurança.
     Fiz a quimioterapia na quarta-feira, na quinta-feira fiz o Neulastim e no domingo viajei com minha filha para Foz do Iguaçu, como estava programado. A viagem foi tranquila, apesar do tumulto no aeroporto para fazer check in, afinal muitas pessoas ainda não se sentem confortáveis em fazer o check in sozinhos na máquina e são poucos os funcionários disponíveis para ajudar. Isto sem falar nas inúmeras filas e nos funcionários mal humorados que só servem mesmo para irritar ainda mais os passageiros. Embarcamos com quase duas horas de atraso, mas como já estávamos em clima de férias isto não chegou a ser nenhum problema.
     Foz do Iguaçu nos recebeu com um tempo fechado, com cara de chuva. Chegamos ao hotel e saímos em seguida para um curto passeio. Como no dia seguinte estava agendado nosso passeio nas cataratas do lado brasileiro, achamos melhor descansar porque teríamos que acordar muito cedo.

     Saímos pouco depois das sete horas da manhã  para o Parque Nacional do Iguaçu, área protegida com mais de 169 hectares, criado em 1939, que abriga o maior remanescente de floresta Atlântica do Alto Paraná. A biodiversidade da fauna é grande: são várias espécies de borboletas (mais de 200 catalogadas), mamíferos, anfíbios, serpentes, lagartos, peixes e mais de 200 espécies de aves. Além disso, o parque contém mais de 2000 espécies de plantas e a mais bela queda d'água do mundo. A ideia da criação do parque partiu de Santos Dumont em 1916, logo após ter conhecido e se encantado com a beleza das cataratas. E não era para menos, as cataratas do Iguaçu são de tirar o fôlego.

     Assim que chegamos no parque fomos comprar nossos ingressos nas máquinas, que estavam vazias, enquanto uma fila gigantesca de turistas aguardavam para comprar suas entradas nos guichês (parece que muita gente gosta mesmo é de enfrentar fila...).

     Não conseguimos fugir da outra fila enorme que nos aguardava na entrada para pegar os ônibus que davam acesso ao parque e deixavam os turistas no início da trilha para as cataratas. Eu e Bárbara decidimos fazer o Macucu Safari que é um passeio de barco inflável que chega perto ou embaixo das quedas d'água. Optamos pelo barco que ia até embaixo de uma das quedas d'água. Que emoção incrível! Bom demais! Muita adrenalina e muita água engolida sem querer.

     Gritei de medo, de emoção e também de dor provocada pelos efeitos colaterais da químio e do neulastim que deixaram meu corpo quebrado. Senti a vida pulsando (literalmente) em cada centímetro que ia do início de meu pescoço e descia pela coluna vertebral. A dor era intensa, mas a emoção era maior ainda. A chuva caía forte, o céu estava cinza, pesado, mas eu agradecia a Deus a oportunidade de estar ali sentindo a vida pulsando... Eu estava vivendo aquele momento e era aquilo que importava.

     Olhei minha filha ao meu lado rindo feliz, curtindo o passeio. O motor do barco rugiu novamente e avançou para debaixo da queda d'água. Todos gritaram em uníssono. Olhei mais uma vez para o céu e agradeci. Uma lágrima teimosa se misturou a água que encharcava todo meu corpo e mais uma vez eu senti que a vida vale a pena.    

Segundo ciclo do Halaven

     Ontem fiz no Hospital Santa Lucia o segundo ciclo do Halaven, apesar da imunidade ter caído. Fiz também mais um ciclo do Xgeva (é um primo do zometa e do prolia) para os ossos que estão bastante comprometidos com as metástases.  Agora vou ter folga de uma semana para repetir os dois ciclos do Halaven nos dias 28 de dezembro e 04 de janeiro. O xgeva tem um ciclo de 28 dias, então só irei repetir a dose em janeiro, no dia 11.
     O Dr Fernando Maluf e sua equipe saíram da Oncovida para fazerem parte da Equipe de Oncologia do Hospital Santa Lucia e eu, naturalmente, segui o mesmo caminho deles. Estou gostando do atendimento no hospital. A equipe de enfermagem parece mais tranquila e bem humorada. Um dos enfermeiros sempre usa uma roupa de super-herói embaixo do uniforme, e mantém uma cara bem humorada animando os pacientes. Outra enfermeira usa o óculos de proteção com um esparadrapo colado dos lados onde está escrito o nome de uma grife famosa, o mesmo se repete no jaleco descartável que ela usa para manipular a quimioterapia no paciente. Sempre rimos da brincadeira que deixa o ambiente mais leve e relaxado. Gosto de ambientes mais leves e tranquilos porque isto ajuda a encarar o tratamento com um peso menor. Rir sempre é um excelente remédio.
     Hoje vou fazer uma dose do Neulastin para subir a imunidade que ficou bastante comprometida e certamente irá piorar com a segunda dose do quimioterápico. O Halaven vem em uma dose tão pequena, mas devastadora o sistema imunológico. Espero que ele seja ainda mais eficaz para acabar com o câncer metastático de uma vez por todas. Não vale destruir apenas o sistema imunológico, é preciso acabar com o câncer ou, no mínimo, na pior das hipóteses, impedir seu avanço.
     Estou tolerando bem a medicação nova. Meu braço ainda está dando um pouco de trabalho porque continua muito inchado, então preciso manter o braço para cima e isto só é possível fazendo repouso, o que não é nada fácil. Tenho que evitar escrever o que atrapalha atualizar o blog como gostaria. Ainda não escrevi sobre a viagem que fiz em Gramado, antes de começar esta nova quimioterapia. 
     Os efeitos colaterais que tenho sentido são o cansaço e a fadiga. Há momentos que tenho a impressão de que a bateria acabou e não consigo fazer nada além de dormir. Sinto também o coração um pouco acelerado, mas depois do sono reparador tudo fica mais calmo e sigo bem.

Um susto o resultado do PET

           Quando peguei o resultado do PET custei a acreditar no que meus olhos mostravam e meu cérebro interpretava: o Kadcyla, tão eficiente para bloquear o avanço do câncer de mama metastático, não funcionou para mim e o câncer, mais uma vez, avançou feito uma locomotiva desgovernada e fez um estrago danado.
         Apesar dos pesares, do susto, da frustração e da raiva, ainda me considero no lucro pois continuo com os órgãos vitais preservados e limpinhos da doença que tenta, mas não consegue me matar. Como uma fênix prefiro renascer das cinzas e me fortalecer embalada pelo amor da minha filha, da minha família e dos meus amigos queridos, do que ficar chorando por algo que não deu certo.
           É por estas e outras que não abro mão de viajar sempre que posso e, além de curtir a natureza que tanto me fascina, continuar fazendo as coisas que realmente importam para mim. Amei meu passeio em Gramado na companhia de amigas queridas. Adorei viajar na história do natal pelo mundo, assistir ao Grande Desfile do Natal e Eu Sou Maria, espetáculos do Natal Luz. É assim que enfrento a doença e, mesmo tropeçando algumas vezes, continuo vivendo a vida agora e sendo feliz com o que tenho nas mãos.
           Hoje comecei um novo protocolo com o Halaven. Vou fazer doze ciclos da seguinte forma: faço um ciclo duas quartas-feiras seguidas e folgo uma semana e repito a operação durante quatro meses e então  faço um novo PET para ver o efeito. Vamos torcer para dar certo desta vez.

Um giro na Serra Gaúcha - Chegada em Gramado

     Fiz o PET e viajei para Gramado sem pegar o resultado. Ainda bem, porque curti de montão aquela cidade que parece ter saído de um conto de fadas, com suas ruas limpas e jardins repletos de flores de todo tipo, principalmente hortências de todas as cores e matizes. 






       A viagem de van de Porto Alegre até Gramado durou duas horas e como eu estava muito cansada aproveitei para dormir, apesar do desconforto. Chegamos ao hotel com uma chuva fina e um frio de montanha delicioso, principalmente para quem estava saindo de um clima quente e ainda seco, já que as chuvas deste ano demoraram muito a cair com vontade em Brasília.
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     Os jardins do Hotel Serrano, muito bem cuidados, são uma festa para os olhos. É uma profusão de hortências azuis, lilases, brancas e de várias outras cores; samambaias Açu e muitas outras plantas,  árvores e um belo gramado verde e bem cuidado.






     Fizemos nosso check in e saímos para explorar a cidade. Estava gelado, então tivemos que comprar gorros para proteger as orelhas que estavam a ponto de congelar. Isto não foi um problema porque todas as lojas vendiam bonés, gorros, boinas, cachecóis e tudo que é necessário para aquecer turistas despreparados para o frio.
     Caminhamos sem pressa até pararmos numa das muitas chocolaterias espalhadas pela cidade, e tomamos um delicioso chocolate quente.
     Já estávamos muito cansadas e como nosso hotel ficava no alto de uma ladeira muito íngreme optamos por pegar um táxi. Depois de um delicioso jantar fomos dormir porque o dia seguinte prometia ser bastante movimentado.    

Linfedema - fisioterapia

     Fui passar alguns dias em Caldas Novas, para fugir da obra e do poeirão em minha casa, e peguei dias de intenso calor e atmosfera muito pesada. Resultado: meu braço inchou novamente, mas pelo menos não ficou vermelho e doloroso.
    De volta a Brasília, procurei um fisioterapeuta especializado em drenagem linfática para pacientes oncológicos e acabei precisando enfaixar o braço direito para diminuir o edema e facilitar a circulação.
     Como o edema ainda está num estágio inicial acredito que o braço voltará ao normal em pouco tempo, e então terei que fazer uso frequente de luvas de compressão para evitar que ele volte a inchar. 
     A paciente oncológica mastectomizada, que precisou fazer a retirada dos gânglios linfáticos, precisa ter muito cuidado com este problema. É para sempre, não tem jeito.

Braço inchado, vermelho e doendo - que falta fazem os gânglios linfáticos

     Na última quarta-feira fiz o quinto ciclo do Kadcyla e no dia seguinte precisei ir ao Pronto-Socorro porque meu braço direito, que não tem os gânglios linfáticos, que foram retirados quando precisei fazer a mastectomia, amanheceu muito inchado, vermelho e doendo.
     O médico solicitou uma ecografia para descartar o risco de trombose, mas ainda estou tomando antibiótico e um remédio para circulação a fim de evitar outras complicações. O vermelhão desapareceu e o inchaço diminuiu bastante, mas a dor ainda persiste bem forte no punho, o que me deixou sem conseguir escrever nestes últimos dias. Devo ter dormido em cima deste braço, o que pode ter provocado toda esta encrenca. A bem da verdade não sei o que desencadeou tudo isto.
     Fazia tanto tempo que meu braço não dava problemas que eu até quis acreditar que ele estava bem adaptado sem os gânglios. Ledo engano. A dor, o inchaço e o vermelhão não deixaram a menor dúvida que uma vez sem os benditos gânglios você precisa tomar cuidado para sempre. E é melhor cuidar com muito carinho porque curtir dor não vale a pena.
     Este quinto ciclo do Kadcyla foi bem mais tranquilo, com menos efeitos colaterais a não ser muita moleza e uma canseira que me faz dormir muito durante o dia. Amanhã já devo começar a melhorar desta moleza que deixa o corpo ruim. Acho que quanto mais distante fica o último ciclo da quimioterapia pesada que eu fazia, menos efeitos colaterais eu sinto com esta nova.
     Ainda vou fazer o PET para ver como estão as coisas. Precisei adiar um pouco o exame por causa da encrenca com meu braço. Prefiro cuidar de uma coisa de cada vez.

A pescaria dos pássaros



          Nosso voo sairia somente no final da tarde, então aproveitamos a parte da manhã para nossa última caminhada pelo calçadão da praia. O dia amanhecera claro, céu azul sem nuvens e um gostoso sol aquecendo tudo. Saímos sem pressa iniciando nossa caminhada em frente ao mar quando observei alguns bem-te-vis pousados nas pedras que separam o calçadão do mar, no centro de Florianópolis.
Como bandidos que não querem ser reconhecidos, os bem-te-vis parecem também usar uma máscara negra em volta dos olhos. Eles também não são bonzinhos como esperamos dos passarinhos, pois já vi um deles devorando um pequeno beija-flor na primeira tentativa de voo. Quase morri de dó do beija-flor e passei a olhar os bem-te-vis como comedores de passarinhos frágeis.
Mas voltemos àqueles bem-te-vis que vi pousados à beira mar, atentos no balanço das ondas que chegavam aos borbotões, cobrindo as pedras e deixando pequenas poças nas depressões, antes de recuar. É que eles sabem que aquelas ondas trazem também pequenos peixinhos e crustáceos que acabam aprisionados, esperando a próxima onda para tentarem escapar.
Não eram apenas os bem-te-vis que observavam atentos, havia também pequenas garças brancas de penacho e muitos biguás boiando ou mergulhando. De repente um dos bem-te-vis deu um voo rasante sobre as águas e voltou a pousar nas pedras com um pequeno peixinho preso no bico. Ele comeu o petisco e voltou a ficar imóvel, atento ao movimento das águas. Esta operação se repetiu várias vezes.
A garça, elegante e graciosa, preferia caminhar devagar sobre as pedras observando atenta as pequenas poças d’água. Quando notava alguma coisa se mexendo parava, esticava seu longo e fino pescoço e dava uma bicada certeira trazendo de volta na ponta do bico um molusco ou peixe aprisionado. Ela não tinha pressa e repetia a operação com sucesso cada vez que esticava o pescoço.
O bem-te-vi pescava nas ondas que chegavam até as pedras, já as garças, se especializaram em caçar entre as pedras, nas pequenas poças que as ondas deixavam para trás. Os biguás ou mergulhões passavam a maior parte do tempo nadando e mergulhando. Cada um encontrou seu jeito peculiar de conseguir o almoço.
Continuamos nossa caminhada, agora de volta ao hotel. O motorista iria nos pegar para o almoço antes de irmos para o aeroporto. Depois de assistirmos tantos pássaros pescando seu almoço resolvemos também comer frutos do mar no Restaurante Ostradamus. Acertamos em cheio, a comida, acompanhada de um bom vinho, estava perfeita.

Novo protocolo com Kadcyla para conter o avanço do câncer

     No início de julho, logo depois que voltei da viagem em Santa Catarina, fiz um novo PET. O resultado não foi o que eu esperava, pois a doença havia avançado e feito um estrago muito maior do que eu poderia imaginar. Aliás, a bem da verdade, eu esperava que a doença estivesse no mínimo estável. O Dr. Fernando e a Dra. Ana Carolina até tentaram me animar dizendo que não era nada tão ruim assim como eu estava vendo...
     Depois de discutido o caso a equipe médica decidiu encerrar o protocolo que eu vinha fazendo e optaram por um protocolo novo com o Kadcyla (nome comercial do Trastuzumabe emtansine), uma droga indicada para o tratamento do câncer de mama avançado HER2 positivo.
     O Kadcyla é um anticorpo monoclonal carregado com um quimioterápico que se fixa na célula alvo e, quando entra no tumor, libera a quimioterapia dentro dele. Desta forma o quimioterápico promete uma eficácia 80 vezes maior do que numa quimioterapia convencional e cheia de efeitos colaterais. Olha só que interessante! Estou bastante animada com o novo protocolo e espero que ele consiga finalmente acabar com o avanço desta doença que corrói meu corpo por dentro, sem dó nem piedade.
     Fiz o primeiro ciclo hoje, e estou sentido meu corpo moído, como se tivesse passado um rolo compressor sobre ele, mas tudo bem, desde que a medicação cumpra seu papel e mate a doença que insiste em querer me matar.
     Farei novos ciclos a cada 21 dias e um novo PET dentro de uns quatro meses para conferir se a nova droga está funcionando. Oxalá tudo dê certo.

Um giro em Santa Catarina - Blumenau no sábado

     A cidade de Blumenau, para quem não tem foco em compras, não pode ser considerada muito turística. O pouco que tinha para se conhecer fizemos na sexta-feira e no sábado quase tudo na cidade está fechado. A recepcionista do hotel sugeriu que fôssemos assistir a banda na praça, mas o que lá encontramos não era exatamente uma banda, mas dois senhores tocando e cantando cantigas em alemão.

     Caminhamos novamente pela Rua XV, entramos na igreja e fomos devagar até a Vila Germânica onde iríamos almoçar. Foi uma boa caminhada, mas como o tempo estava fresco não ficou exaustivo.

     A Maura optou por comer uma batata com recheio de bacalhau. Como a batata era muito grande e os outros pratos do cardápio também eram grandes, escolhi algo menor e aparentemente inocente (macarrão com iscas de filé), mas acabei indo parar no pronto socorro com uma forte infecção intestinal. Vomitei tanto que fiquei com o corpo doído de tanto fazer força. Fiquei internada tomando soro e um monte de outras medicações. Um horror e o pior é que atrapalhou o passeio do domingo que seria em São Francisco do Sul, uma cidade pequena localizada a mais ou menos duas horas de viagem de Blumenau.
     Como só tive alta hospitalar no meio da madrugada achamos por bem excluir o passeio em São Francisco e seguir viagem direto para Camboriú que é uma cidade maior e com mais recursos, além de ficar a menos de uma hora de viagem de Blumenau.
     O Sr. Mário nos levou até o Balneário de Camboriú, mas teve que parar no meio do caminho para que eu pudesse vomitar mais uma vez o pouco que eu havia conseguido comer no café da manhã. Eu estava um caco, com olheiras e uma cara horrível. Tão logo cheguei no hotel o gerente vendo o meu estado mandou um empregado me levar direto para o quarto enquanto minhas amigas faziam o check in. Foi muito gentil da parte dele.
     Passei o domingo em repouso, enjoando muito e sem conseguir comer absolutamente nada. Mal consegui ingerir uma garrafa de gatorade durante todo o dia. O prejuízo só não foi maior porque choveu e fez frio o dia todo.
   

Um giro em Santa Catarina - Blumenau

     O Sr. Mário nos pegou no hotel pela manhã para fazermos um city tour. Sendo Blumenau uma  cidade com forte influência alemã nosso tour tinha que começar pelo Museu da Cerveja. A visita inicia com um filme para mostrar ao turista a história da cerveja, como é produzida e coisa e tal. Uma das marcas artesanais mais consumidas no país é a Eisenbahn, produzida em Blumenau.









     Em seguida visitamos uma fábrica de cristais. Lá assistimos um jovem artesão produzir um delicado peixinho de cristal colorido. No final da apresentação ele rasgou um pedaço de papel que pegou fogo tão logo tocou na peça recém saída do forno. Era para demonstrar o intenso calor da peça que sai do forno (em torno de 1000º).  Ele explicou que toda peça que sai do forno precisa ficar guardada numa estufa para ir esfriando aos poucos porque se ficar exposta a baixa temperatura, em poucos minutos explode em pedaços. 
     Perguntei se o número de acidentes no trabalho era alto e ele riu ao explicar que todos sabem o quanto é dolorido esbarrar numa peça saída do forno então é muito raro alguém se machucar, apesar do intenso vai e vem dos funcionários produzindo peças o tempo todo.
     Vendo de perto o trabalho artesanal para a confecção do cristal, dá para entender porque custam tão caros. Além do material, cada peça é produzida individualmente por um cuidadoso artesão que fica exposto a altíssimas temperaturas o tempo todo. É um trabalho árduo, apesar de muito delicado. Tem o seu valor, não há dúvidas.










     Como o foco do nosso passeio não era compras, passamos rapidamente pelas fábricas de malhas e de lá fomos conhecer a Vila Germânica, onde passamos algum tempo caminhando, entrando nas lojinhas e conhecendo um pouco do artesanato local. De lá seguimos direto para a rua XV de Novembro. Paramos para almoçar e depois seguimos sozinhas pelos pontos turísticos no centro da cidade.



     Vimos a prefeitura, o teatro Carlos Gomes, a Catedral de São Paulo apóstolo e outros pontos turísticos no centro da cidade. Voltamos mais tarde caminhando para o hotel que não ficava muito longe da rua XV de Novembro.