Novo oncologista, novo protocolo e o Mito de Ulisses
domingo, outubro 21, 2012
Resolvi
seguir minha intuição, que não costumar falhar, e procurei outro oncologista
para uma consulta. Acho interessante um olhar novo para um caso velho... a
ciência está avançando numa velocidade inacreditável, e sempre existe alguém
surfando a onda certa... não custa nada tentar, ouvir uma outra opinião. Acho
que acertei na mosca. Saí muito animada
com a conversa que tive com o Dr. Alessandro, do Hospital Sírio-Libanês de
Brasília.
Adoro mitologia e entendo os mitos como ensinamentos para
aplicação no nosso dia a dia. O mito de Ulisses, por exemplo, conta a saga do
Rei de Ítaca para encontrar o caminho de volta para sua terra natal. O rei Ulisses levou muitos anos naquela jornada, perdeu muitos homens e barcos,
passou por muitas provas até alcançar seu objetivo. Ele saiu de Ítaca com
muitos homens e barcos, mas retornou sozinho.
Você deve estar se perguntando: o que uma coisa tem a
ver com a outra? Tem tudo, pode ter certeza. Olha só: Ulisses usa uma barca
como veículo em sua jornada. Num barco é necessário consertar as velas quando o vento as destrói. Se as velas não
estiverem perfeitas o barco não sai do lugar. Outra coisa: o comandante precisa
estar alerta e sempre há um vigia no alto do mastro perscrutando
o horizonte em busca de sinal de piratas ou de terra a vista, não é
verdade? E outra coisa: para o barco navegar é necessário levantar a âncora
para sair do porto. É necessário soltar as amarras.
Sou ora o Ulysses,
ora o vigia, a vela rota, sou cada um dos personagens do mito. Somos,
todos nós, viajantes na vida; e já faz algum tempo que venho empreendendo uma
longa viagem para dentro de mim.
Como o vigia do barco no alto do mastro perscrutando o
horizonte, olhei para mim e observei atentamente meus novos sintomas. Não dá
para baixar a guarda, afinal quem conhece melhor o meu corpo e como ele funciona
sou eu mesma. Resolvi seguir minha intuição e ouvir uma nova opinião; procurei saber se existe no mercado algum remédio novo e mais eficiente para o meu
caso.
Como Ulisses, é preciso estar sempre alerta e é
fundamental consertar as velas rasgadas pelo vento. Tenho câncer metastático
ósseo que já comprometeu duas vértebras, três costelas, quase todo o esterno, e
agora parece ter avançado também no fêmur. É necessário consertar minha estrutura óssea
que está danificada, pois não tem graça nenhuma ficar quebrando do nada,
sentindo dor e correndo riscos desnecessários.
Já tive câncer espalhado por quase todo meu corpo. Já perdi a voz por causa de tumores, já estive mais prá lá do que prá cá, mas para minha sorte, meus órgãos vitais estão preservados e nunca tiveram câncer e, tirando o câncer ósseo, estou muito bem agora.
Já tive câncer espalhado por quase todo meu corpo. Já perdi a voz por causa de tumores, já estive mais prá lá do que prá cá, mas para minha sorte, meus órgãos vitais estão preservados e nunca tiveram câncer e, tirando o câncer ósseo, estou muito bem agora.
Soltar as amarras... pode até ser assustador, mas é
necessário. Afinal, se quero chegar a algum lugar não posso ficar presa,
amarrada no cais do porto da mesmisse. Chegou a hora de fazer uma mudança,
vamos fazer. E assim eu vou, mesmo
assustada e com um pouco de medo, o que deve ser natural, superando cada uma
das provas que se apresenta na minha jornada. Faz parte do jogo da vida...
O Dr. Alessandro Leal suspendeu o anastrozol
porque para o tipo de câncer que eu tenho esse remédio não tem eficácia nenhuma.
Por outro lado ele sugeriu que eu volte a fazer o herceptin associado ao tykerb
que já faço uso, pois este duplo ataque costuma ser bastante eficiente para
casos como o meu.
Na primeira semana de novembro vou colocar novamente o
catéter para facilitar a quimioterapia. O novo protocolo vai ficar assim: Lapatinibe diariamente, Trastuzumabe
a cada 21 dias e denosumab a cada 28 dias. Quero ficar, no mínimo, estável e sem dor e, lógico,
continuar tendo qualidade de vida.
Mama, qro saber detalhes desse médico q vai colocar seu catéter. Não qro nenhuma surpresa desagradável desta vez, hein! Te amo!