De Catador de Lixo a Lider


Hoje não quero apenas registrar minha indignação com as coisas erradas que acontecem no país, como por exemplo o caso do delegado de São José dos Campos, que confrontado pelo uso inadequado de uma vaga destinada a deficientes achou mais fácil agredir e provocar uma lesão na cabeça e no rosto do advogado e cadeirante Anatole Magalhães Macedo.

Quero escrever sobre coisas boas como a notícia de que a Ordem dos Advogados do Brasil, representada por Ophir Cavalcanti, vai apresentar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra os Estados do Sergipe, Paraná e Amazonas para acabar com a festa dos ex-governadores que recebem, indevidamente, pensão vitalícia. É preciso por um fim, de uma vez por todas, nos desmandos destes parlamentares sem noção de ética ou moral. Ah, e também vai acabar com a festa dos passaportes diplomáticos. Já foi editada a portaria número 98 do MRE.

Hoje quero também registrar a trajetória de vida de um garoto pobre que aprendeu a gostar de ler recolhendo livros jogados no lixo, tornou-se um líder e acabou virando o personagem central de um documentário premiado. Vou apresentar Tião, lider da Associação dos Catadores de Lixo.

Sebastião Carlos dos Santos é filho de um estivador que fora substituído pelos guindastes que chegaram ao Porto do Rio, ficando desempregado. Sua mãe e dois irmãos mais velhos precisaram sair para trabalhar no lixão que ficava perto da casa onde moravam e era Tião, nesta ocasião com apenas 8 anos, quem levava a comida e ficava por lá brincando com outros meninos.
Ficou afastado do lixão por um período de três anos, voltando aos 18 anos para trabalhar em uma cooperativa que recebia o material coletado.
No meio do lixo coletado encontrou o livro "O Príncipe" de Maquiavel. Como já tinha ouvido a palavra maquiavélico ficou curioso e resolveu ler o livro. A partir desta experiência passou a pegar e ler todos os livros que encontrava. Já leu Schopenhauer e Nitzsche que encontrou no lixo.
Comandou um protesto contra a prefeitura e dois anos depois foi eleito o presidente da Associação dos Catadores. Pouco tempo depois recebeu um telefonema informando que um artista brasileiro queria fazer um trabalho com os catadores.
O trabalho de Tião, em princípio, seria apenas acompanhar o artista Vik Muniz no aterro para apresentá-lo aos catadores. Numa de suas caminhadas pelo aterro com o artista, encontrou seu amigo Zumbi carregando uma banheira. Vik teve então a idéia de usar a banheira como cenário para fazer uma fotografia de Tião imitando Jean-Paul Marat, um dos líderes da Revolução Francesa, que morrera numa banheira.
A história de Marat, na cabeça de Tião, parecia combinar com a dele e então posou para a foto que acabou transformada em quadro que foi vendido em 2009, num leilão em Londres, por 28 mil libras (74 mil reais). Esse dinheiro foi revertido para a Associação dos Catadores.
O artista plástico Vik Muniz pretendia inicialmente apenas retratar a rotina dos catadores de lixo, mas acabou criando um documentário intitulado Lixo Extraordinário, premiado no Festival de Berlim de 2010, que tem Tião como um dos personagens principais. O filme já coleciona mais de 21 prêmios e poderá ser indicado ao Oscar de melhor documentário.
A vida de Tião mudou a partir da evidência que passou a ter com a exibição do documentário. Já recebeu alunos de uma universidade de Nova York e também participou de reunião no BNDES para tratar do futuro aterro sanitário que será desativado em 2012.
1 Response
  1. Lili Says:

    Oi Lou,
    Lixo Extraordinário (Wasteland) foi indicado ao Oscar de melhor documentário ontem. Estamos em sintonia, o seu post foi praticamente simultâneo ao meu comment no facebook e twitter :-)
    Eu já conhecia o trabalho do Vik Muniz, outro brasileiro quase desconhecido nesse país cuja cultura é tão maltratada.
    Beijin,


Postar um comentário

Obrigada pelo comentário. bjs Lou