De Catador de Lixo a Lider
terça-feira, janeiro 25, 2011
Hoje não quero apenas registrar minha indignação com as coisas erradas que acontecem no país, como por exemplo o caso do delegado de São José dos Campos, que confrontado pelo uso inadequado de uma vaga destinada a deficientes achou mais fácil agredir e provocar uma lesão na cabeça e no rosto do advogado e cadeirante Anatole Magalhães Macedo.
Quero escrever sobre coisas boas como a notícia de que a Ordem dos Advogados do Brasil, representada por Ophir Cavalcanti, vai apresentar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra os Estados do Sergipe, Paraná e Amazonas para acabar com a festa dos ex-governadores que recebem, indevidamente, pensão vitalícia. É preciso por um fim, de uma vez por todas, nos desmandos destes parlamentares sem noção de ética ou moral. Ah, e também vai acabar com a festa dos passaportes diplomáticos. Já foi editada a portaria número 98 do MRE.
Hoje quero também registrar a trajetória de vida de um garoto pobre que aprendeu a gostar de ler recolhendo livros jogados no lixo, tornou-se um líder e acabou virando o personagem central de um documentário premiado. Vou apresentar Tião, lider da Associação dos Catadores de Lixo.
Sebastião Carlos dos Santos é filho de um estivador que fora substituído pelos guindastes que chegaram ao Porto do Rio, ficando desempregado. Sua mãe e dois irmãos mais velhos precisaram sair para trabalhar no lixão que ficava perto da casa onde moravam e era Tião, nesta ocasião com apenas 8 anos, quem levava a comida e ficava por lá brincando com outros meninos.
Ficou afastado do lixão por um período de três anos, voltando aos 18 anos para trabalhar em uma cooperativa que recebia o material coletado.
No meio do lixo coletado encontrou o livro "O Príncipe" de Maquiavel. Como já tinha ouvido a palavra maquiavélico ficou curioso e resolveu ler o livro. A partir desta experiência passou a pegar e ler todos os livros que encontrava. Já leu Schopenhauer e Nitzsche que encontrou no lixo.
Comandou um protesto contra a prefeitura e dois anos depois foi eleito o presidente da Associação dos Catadores. Pouco tempo depois recebeu um telefonema informando que um artista brasileiro queria fazer um trabalho com os catadores.
O trabalho de Tião, em princípio, seria apenas acompanhar o artista Vik Muniz no aterro para apresentá-lo aos catadores. Numa de suas caminhadas pelo aterro com o artista, encontrou seu amigo Zumbi carregando uma banheira. Vik teve então a idéia de usar a banheira como cenário para fazer uma fotografia de Tião imitando Jean-Paul Marat, um dos líderes da Revolução Francesa, que morrera numa banheira.
A história de Marat, na cabeça de Tião, parecia combinar com a dele e então posou para a foto que acabou transformada em quadro que foi vendido em 2009, num leilão em Londres, por 28 mil libras (74 mil reais). Esse dinheiro foi revertido para a Associação dos Catadores.
O artista plástico Vik Muniz pretendia inicialmente apenas retratar a rotina dos catadores de lixo, mas acabou criando um documentário intitulado Lixo Extraordinário, premiado no Festival de Berlim de 2010, que tem Tião como um dos personagens principais. O filme já coleciona mais de 21 prêmios e poderá ser indicado ao Oscar de melhor documentário.
A vida de Tião mudou a partir da evidência que passou a ter com a exibição do documentário. Já recebeu alunos de uma universidade de Nova York e também participou de reunião no BNDES para tratar do futuro aterro sanitário que será desativado em 2012.
Oi Lou,
Lixo Extraordinário (Wasteland) foi indicado ao Oscar de melhor documentário ontem. Estamos em sintonia, o seu post foi praticamente simultâneo ao meu comment no facebook e twitter :-)
Eu já conhecia o trabalho do Vik Muniz, outro brasileiro quase desconhecido nesse país cuja cultura é tão maltratada.
Beijin,