Efeitos colaterais?

     Na quinta-feira passada passei o dia inteiro me hidratando com água de côco e outros líquidos e na sexts-feira ainda levei uma garrafinha de água de côco para a clínica Onco-Vida; isto tudo para facilitar a punção em minhas veias. Acho que funcionou, pois desta vez a enfermeira conseguiu achar uma veia boa na primeira tentativa.
     Fiz o herceptin, mas não fiz o zometa que estava programado porque estou sentindo dor em todo o lado direito da minha arcada dentária e preciso fazer uma radiografia para ter certeza de que não é nenhum efeito colateral do zometa. Este remédio costuma provocar um problema sério na mandíbula, e eu só espero que não seja o caso. Deus me livre! Já chega de problemas.
     Cheguei na clínica sexta-feira sentindo que minhas vias aéreas estavam congestionadas, e só fiz piorar. No sábado meu corpo inteiro doía e fiquei deitada o dia todo. Eu já nem sei avaliar se as dores que ando sentindo são sintomas de uma gripe ou consequência dos remédios. Virou tudo uma bagunça, mas sinto nos ossos e no corpo dores que andam me tirando do sério. Quero meu bom humor de volta.
     Hoje cedo fiz a radiografia dos dentes e na parte da tarde vou fazer outra radiografia para ver como está a consolidação do osso do meu pé quebrado. Acho que já está melhor, pois estou andando sem sentir dor, e isto para mim já é um progresso e tanto. Andar com meus próprios pés é tudo o que quero.
     Tenho precisado administrar muitas coisas ao mesmo tempo, e sinto que estou no meu limite. Estou muito cansada e irritada com tudo o que estou sentindo. Será que preciso de um remedinho para relaxar e levar a vida feito uma vaca que está sempre cag... e andando? Se for para recuperar meu bom humor e alegria de viver, que seja.

Vaidade de uma idosa

            Minha mãe é muito engraçada. Ela acabou de completar 86 anos, gosta mesmo é de ficar em casa com suas plantas e bichos de estimação, mas não abre mão de um pouquinho de vaidade embora jure, de pé junto, que nunca foi e nem nunca será vaidosa.
            Quando eu era criança lembro-me que as pernas da minha mãe eram cheias de veias grossas, escuras e salientes sob a pele. Um dia pela manhã uma daquelas veias estourou no pé deixando um rastro de sangue vermelho escuro na madeira do assoalho da sala. Eu e minhas irmãs ficamos muito assustadas, pois minha mãe precisou ser levada ao hospital.
            Depois daquele episódio os pés e pernas da minha mãe deram muito trabalho. Ela desenvolveu uma erisipela que levou muito tempo para curar. Uma de suas pernas ficou com uma cor quase preta e a pele ficou tão fina que dava medo de olhar. Tocar na pele do pé então, nem se fala.
            Anos depois, quando minha mãe veio morar em minha casa, resolvi procurar um angiologista para cuidar daquelas veias complicadas. Foi difícil encontrar um médico que topasse encarar a empreitada, mas finalmente encontrei o dr. João Guilherme. Ele foi fantástico, e agradeço a Deus tê-lo colocado no caminho da minha mãe, pois ele encarou o desafio de uma cirurgia longa e delicada sem pestanejar.
            A recuperação da cirurgia nas duas pernas foi longa e bem difícil. Foram uns seis meses de repouso, sem poder colocar os pés no chão. Era uma dificuldade manter minha mãe quieta, mas no final das contas deu tudo certo. A pele da perna até voltou a coloração normal e as dores que ela sentia melhoraram muito, mas ela precisou passar a usar meias de compressão diariamente, fizesse frio ou calor.
            Recentemente, o problema de circulação nas pernas se agravou e a pele abriu novamente fazendo outra erizipela. A pobrezinha sentia dor o tempo todo. Para sorte dela sua atual angiologista é tão boa e dedicada quanto foi o seu primeiro médico. A Dra. Fernanda adora o que faz e por isto faz seu trabalho bem feito e com muito cuidado. Acho que ela é a única médica que minha mãe aceita ir até o consultório sem reclamar.
            Depois de mais de seis semanas indo ao consultório toda semana para colocar a bota de Una, uma faixa que libera medicação 24h, o pé finalmente fechou, mas a pele ficou ainda mais fina e voltou a ficar escura em alguns pontos.
            Minha mãe está inconformada com a aparência de suas pernas. Acho até graça quando ela reclama dizendo que suas pernas estão muito feias. Quem a escuta reclamando pode até pensar que ela vive passeando por aí com as pernas de fora. Ledo engano. Ela está sempre usando meias de compressão, desde a hora em que levanta pela manhã. Mas sabe o que acho legal disto tudo? É perceber que apesar da idade avançada e da simplicidade ela ainda guarda um pouquinho de vaidade...

Os 86 anos da minha mãe

         Hoje, dia 19 de março, a igreja católica comemora o dia de São José, pai adotivo de Jesus.  Hoje também aconteceu a entronização do Papa Francisco, que celebrou no Vaticano a missa inaugural do seu pontificado. Ele destacou em sua homilia a figura de São José, patrono da igreja e o guardião de Maria e Jesus; e pediu por mais respeito às criaturas e a natureza. Tomara que suas súplicas encontrem eco ao redor do mundo.
            Hoje é um dia de muitas comemorações, e é também o dia do aniversário da minha mãe. Ela está completando 86 anos de uma vida plena e cheia de altos e baixos como costuma ser a vida da maioria de nós, simples mortais. Minha mãe é uma mulher admirável, ela é uma guerreira, uma mulher que soube superar preconceitos e vencer obstáculos; uma mulher que não se deixou abalar pelas dificuldades que a vida lhe impôs.
            Olhando a retrospectiva da história de vida da minha mãe não tenho a menor dúvida em dar nota 10 para esta guerreira anônima. Minha mãe ficou órfã de mãe aos 5 anos de idade, cresceu no meio do mato no interior de São Paulo, enfrentou o frio, a geada que cobria os campos de gelo branquinho, o medo dos animais selvagens que a noite rondavam sua casa rústica e frágil, e dos peçonhentos que perambulavam por todos os cantos tanto de dia quanto de noite. Minha mãe trabalhou na roça desde muito pequena e com pouco mais de 16 anos teve coragem de largar para trás tudo o que lhe era familiar para ir viver sozinha num colégio de freiras no Rio de Janeiro.
            Ela viveu muitos anos no Colégio Stela Maris, das filhas de Jesus, no Rio de Janeiro. Ela sempre faz questão de dizer que aprendeu no colégio das freiras tudo o que ela sabe, e é grata por isto. Ela também desejou se tornar freira na congregação das Filhas de Jesus, mas há mais de sessenta anos carregar na pele a cor morena, cor de canela, era motivo mais do que suficiente para impedir a concretização deste desejo. Se o preconceito racial existe ainda hoje, imaginem naquela época.
            Minha mãe não conseguiu se tornar a esposa de Cristo como era seu desejo, e acabou se casando com meu pai, muitos anos mais velho do que ela. O casamento durou pouco mais de onze anos, pois meu pai faleceu em 1969. Viúva, ela criou sozinha e com muito sacrifício as três filhas pequenas. Nossa casa, em minhas lembranças da infância, era um porto seguro para todos que por lá chegassem.  Sempre coube um prato a mais na mesa; sempre existiu um ombro amigo para amparar um pranto.
            Ontem eu e a Bárbara decidimos fazer um bolo de cenoura bem gostoso para cantarmos o parabéns da meia-noite para a minha mãe. Enquanto eu pegava o material para fazer o bolo a Bárbara descascou e picou a cenoura. Depois da massa pronta ela teve a ideia de fazer pequenos bolinhos, como um cupcake e um bolo pequenino para colocar a vela na hora do parabéns. A Suzi derreteu chocolate para fazer a cobertura e nossos bolinhos improvisados ficaram com uma aparência muito apetitosa, além de deliciosos.
            Meia-noite em ponto acendemos a velinha de aniversário com o número 8 e seis palitos de fósforo que espetamos no mini bolo.  Cantamos o parabéns prá você e fizemos aquela farra com nossa matriarca. Ela ficou toda feliz. O parabéns da meia-noite é tudo de bom. É nosso momento família. 

Uma criança insistente na missa de domingo

           Hoje pela manhã, enquanto minha irmã se aprontava para ir a igreja assistir a missa de domingo com minha mãe, ela comentou comigo que durante a semana, quando ela levou minha mãe à igreja para confessar, uma menina que ainda não havia feito a primeira comunhão quis confessar também, mas não conseguiu porque a primeira confissão só é feita na véspera da primeira comunhão.
            Uma história acaba puxando uma lembrança e foi o que aconteceu comigo. Na mesma hora me lembrei do que aconteceu com minha filha quando ela tinha uns dois ou três anos, não tenho muita certeza. Só lembro que ela ainda era bem pequenina.
            Era domingo e eu levei a Bárbara para a igreja comigo. Ela ficou quietinha sentada no banco, atenta a tudo o que acontecia à sua volta durante a celebração da missa. Na hora da comunhão, quando as pessoas se juntaram em fila, ela não resistiu e caminhou  até o altar para ver o que o padre estava fazendo. Quando ela percebeu que as pessoas na fila recebiam na boca alguma coisa das mãos do padre ela não pensou duas vezes para entrar na fila também.
            Continuei sentada no banco atenta ao que ela iria fazer. Ela seguiu a fila em silêncio e quando chegou sua vez junto ao padre ele a colocou de lado sem lhe dar a hóstia, é claro. Ela não se abalou e retornou ao final da fila e mais uma vez ela foi colocada de lado sem receber atenção e muito menos aquela coisinha branca e redonda que todos recebiam.  Vou tentar outra vez, ela deve ter pensado, pois retornou ao final da fila. Lá pela quarta tentativa em receber a hóstia consagrada acho que o padre se compadeceu da criança insistente e se curvou até a altura dela, fez-lhe o sinal da cruz na testa dela, sorriu e novamente a colocou fora da fila. Só então ela se deu por satisfeita e voltou sorrindo ao banco onde eu estava sentada.
            Achei muita graça da situação, e fiquei feliz com a atitude do padre. Minha filha era apenas uma criança curiosa, que queria também receber aquele círculo branquinho que o padre colocava na boca de todos que estavam na fila. Ela não tinha a menor ideia do que era uma hóstia, e no mínimo pensou que era uma guloseima qualquer. Ele teve sabedoria para não ficar bravo com ela pela insistência, e ainda fez um gesto de bondade quando se inclinou e a abençoou na testa com o sinal da cruz.

Viajando nas lembranças de antigas viagens - Canal de Corinto e Epidauro

          Estando de férias em Athenas eu não poderia deixar de aproveitar a ocasião para conhecer Epidauro. Eu já tinha ouvido falar sobre a fantástica acústica do anfiteatro e o que eu queria fazer era ver tudo aquilo de perto. Além do mais reza a lenda que foi em Epidauro que nasceu Asclépio ou Esculápio, o pai da medicina. Olha só que legal!
            Eu e a Cris fomos para lá em excursão e saímos cedo de Athenas. Primeiro passamos pelo Canal de Corinto, que liga o Golfo de Corinto com o Mar Egeu, encurtando as viagens marítimas em 400 km. O canal de Corinto separa a península do Peloponeso do continente grego.
            O Peloponeso, eu me lembrava das aulas de história dos tempos em que eu era apenas uma menina, é uma península extensa e montanhosa, ligada à parte continental da Grécia pelo estreito de Corinto, eu estava ali, vendo tudo aquilo de perto. Eu estava emocionada.
O canal, incrível obra de engenharia, foi escavado na rocha no final do século XIX, transformando a península numa ilha. Visto de perto, ao vivo e em cores, é uma obra impressionante! São 6,3 km de canal rasgados na pura rocha, por 21 metros de largura. Nos dias de hoje somente barcos pequenos conseguem atravessar o canal. Os transatlânticos são muito grandes e largos e ficariam entalados na largura do canal.
            A construção do Canal de Corinto era um desejo antigo, desde os tempos do maluco Imperador Nero que  chegou a enviar  6.000 escravos para começar a construção na base da pá e picareta. Pensem na loucura. Para a sorte dos escravos o imperador morreu e o projeto foi abandonado. Ufa! Em 1881 o projeto foi retomado (mas já não era na base da pá e da picareta), ficando pronto em 1893. Sem dúvida a construção do canal foi e continua sendo uma espetacular obra de engenharia. Um canal com mais de 40m de altura, escavado na rocha.
            Depois de conhecer o canal de Corinto seguimos viagem para Epidauro, uma cidade (ou o que restou dela) situada na Argólida, rodeada de bosques e montanhas, às margens do Mar Egeu. Por ser o santuário do deus da Medicina, Epidauro atraía doentes de todos os lugares. Os doentes que eram admitidos no santuário, depois de passar por banhos e beberagens, dormiam para sonhar. Um sacerdote interpretava os sonhos para poder indicar o remédio que o doente precisava receber. Este mesmo sacerdote indicava uma oferenda de agradecimento ao Deus, que o doente deveria deixar no santuário. Os médicos daquele tempo já sabiam das coisas... era o início da prática da psicanálise ou estou enganada?
            Mas Epidauro também tinha seu teatro ao ar livre, o famoso Anfiteatro de Epidauro, um dos maiores daqueles tempos. Sua acústica era considerada perfeita para a época, pois reproduzia com nitidez o som que podia ser ouvido tanto da primeira fileira como da última. Eu conferi isto de perto e fiquei impressionada. O guia que nos acompanhou até lá jogou uma moedinha no centro do palco e o mesmo som que ouvi quando me sentei na primeira fila foi o mesmo que ouvi quando me sentei na última arquibancada, no alto do anfiteatro. Os arquitetos e engenheiros da antiguidade eram muito bons em matemática! Será que eles recebiam alguma ajuda dos Deuses Astronautas??? 
                Voltamos para Athenas ao cair da noite. Ficamos mais dois dias na cidade, depois seguimos viagem para Roma, a cidade eterna.

Consulta oncológica de rotina

     Ontem tive consulta com meu novo oncologista, o dr. Fernando Maluf. Ele ficou animado quando eu disse que as dores que eu vinha sentindo na região do tórax cederam, pois isto é um bom sinal. É sinal de que o novo protocolo está surtindo o efeito esperado.
     Aproveitei a consulta e reclamei com ele da falta de medicamentos na clínica, pois isto é muito sério e eu tenho certeza de que ele não estava sabendo do problema. Ele não mora em Brasília e só vem a cidade nas sextas-feiras para atender seus pacientes.
   Na minha cabeça, e acho que na cabeça de qualquer paciente, uma clínica oncológica, principalmente sendo uma clínica privada, não pode atrasar o tratamento dos pacientes por falta de medicação. O meu tratamento só não atrasou porque eu reclamei e eles conseguiram arrumar as doses que eu precisava, mas minha amiga Goretinha que faz a mesma medicação ficou com o tratamento atrasado por uma semana. Imperdoável. 
     Falei também sobre a dificuldade dos enfermeiros em puncionar minhas frágeis veias. Ele sugeriu que eu volte a colocar cateter. Vou pensar com carinho no assunto, mas acho que vou acabar fazendo isto mesmo. Este negócio de sair toda esburacada e cheia de manchas roxas no braço não é nem um pouco agradável.
     Quanto a alergia com o uso do Faslodex ele disse que não é muito comum e que nenhum outro paciente dele teve este tipo de reação. Não foi o meu caso, infelizmente. Agora, além do Allegra ele prescreveu também Prednisona dois dias antes e dois dias depois da medicação, para evitar os efeitos colaterais. Desta última aplicação não ficou vermelho, como se fosse uma queimadura, mas além da coceira que persistiu estou sentindo também um pouco de dormencia e sensibilidade no local das injeções. A sensação de dormência vai das nádegas até o músculo das coxas, na altura dos culotes. 
     Quanto a estranha lesão e coceira que apareceu na sola do meu pé esquerdo ele disse que não tem nada a ver com as medicações que estou usando. Já marquei uma consulta com um dermatologista para a segunda-feira. Até lá acho até que a ziquizira já deve ter melhorado, eu espero. Consulta médica é um negócio complicado. Eles nunca podem atender na hora que a gente precisa, estão sempre com a agenda cheia. Acho que agora temos que adivinhar a hora que alguma coisa vai acontecer para marcar as consultas com antecedência...

Viajando nas lembranças de antigas viagens - Athenas - Grécia

          Quando cheguei na cidade em 1999, minha primeira impressão foi de surpresa. Acho que em meu imaginário eu esperava uma Athenas da antiguidade, com construções clássicas e gente andando calmamente nas ruas e não uma metrópole grande e cheia de prédios altos como São Paulo ou outra cidade grande qualquer. Confesso que levei um susto ao me deparar com uma cidade movimentada demais, com  trânsito pesado e motoristas que não respeitavam a faixa de pedestres e buzinavam loucamente  o tempo todo. Um verdadeiro caos. Para piorar a situação naquela época a cidade parecia um canteiro de obras, pois eles estavam se preparando para as Olimpíadas de 2004 (acho que a gastança com as Olimpíadas foi um dos motivos da atual dívida externa do país nos dias de hoje. Espero que a história não se repita aqui em nosso Brasil varonil...)
            Passado o impacto, Athenas foi aos poucos se revelando para mim. Ela é uma cidade moderna, mas conserva as marcas de uma das cidades mais antigas do mundo. Está cercada de montanhas, e é olhando para cima que podemos ver a bela Acrópode, que significa Cidade Alta. A  Acrópole foi construída 2.500 anos a.C para ser  sede do governo, mas depois de algum tempo se tornou um espaço para o culto aos deuses. É lá que fica o Parthenon, o teatro de Dionísio e outras construções importantes como o Templo da Deusa Athenas, a deusa da sabedoria, e da Deusa Nike, a deusa da vitória. Foi impactante ver ao vivo e em cores aquela construção clássica que vi retratada tantas vezes nos livros e revistas. A Acrópole reina majestosa no alto da montanha.
            Como era verão a temperatura era quente ou melhor, fervia, bem do jeito que eu não gosto. Eu tomava litros de água e andava para baixo e para cima com uma garrafinha d'água a tiracolo. A primeira coisa que eu e a Cris fizemos em Athenas foi um city tour para conhecer a cidade. Terminamos nosso  city tour na Plaka, um bairro antigo e cheio de charme. É o bairro boêmio de Athenas que fica, literalmente, aos pés da Acrópole, no centro da cidade. É lá que os gregos e os turistas se encontram ao entardecer. A Plaka é feita de ruas estreitas e pequenas, com construções neoclássicas. Ela é cheia de bares, restaurantes, discotecas e tudo o que você puder imaginar. A vida acontece naquele lugar: são ambulantes vendendo comida na rua, gregas  fazendo trabalhos manuais, uma festa que entra pela noite. Para quem gosta de fazer compras uma dica: é lá que ficam as lojinhas vendendo de tudo: é roupa, esculturas, artesanato, tem até  objetos em ouro e prata e muitas outras coisinhas mais.

Viajando nas lembranças de antigas viagens - Santorini - Grécia

          O Navio Triton ancorou no meio da caldeira submersa de um vulcão, e ainda ativo, que entrou em erupção há mais de 3.000 anos destruindo grande parte do território da ilha de Santorini e moldando seu formato atual que lembra uma meia lua. Saímos do navio em pequenos barcos para chegar ao porto de Fira, e de lá fomos de micro ônibus até a cidade de casinhas brancas com telhados azuis que fica no topo da falésia. A cidade é um charme, ninguém pode negar, mas chegar até lá foi uma tortura para mim que tenho pavor de altura e beira de precipício. Esta combinação é o meu tormento.  Minha amiga Cris deu muitas risadas da minha cara assustada a cada curva mais fechada na beira do despenhadeiro. Eu olhava tão angustiada para o mar azul lá embaixo e devia estar na cara meu medo, pois ela me deixou em paz sozinha no fundo do ônibus, quietinha, esperando acabar o pesadelo da subida.
            Mas voltando a história da ilha, nem gosto de imaginar a força daquela explosiva erupção que criou a enorme caldeira onde os navios atracam. Foi devastador, não resta a menor dúvida. A lava que escorreu da borda do vulcão recobriu tudo o que restou da ilha, dando-lhe o formato que hoje conhecemos. São centenas de metros de espessura de lava que recobriu tudo o que sobrou da antiga ilha. O fim da civilização minoica na Ilha de Creta, distante 110 km de Santorini, pode até  estar ligada a esta erupção; e talvez tenha sido a mesma erupção que inspirou a lenda sobre Atlântida.
            A capital de Santorini é Fira, e ela fica no topo da falésia Caldera, lá no alto, pertinho do céu azul sem nuvens (pelo menos esta era a minha visão). O acesso até a cidade pode ser feito por funicular ou por mulas que sobem e descem os degraus construídos ao longo da borda da montanha. Lembro que olhei para as mulas mas não tive a menor coragem e nem vontade de encarar. Eu em cima de um burrinho daqueles! Nem morta.
Nosso grupo subiu a montanha com um micro ônibus, e ainda tenho na memória a cara de riso do guia, que era um senhor idoso, brincalhão e muito animado. O nome dele eu não lembro mais, é pedir muito da minha memória, mas ainda me lembro que todas as vezes que o ônibus dava de cara com outro carro em sentido contrário, numa estradinha que mal cabia um carro de passeio, o grupo gritava de susto e ele fazia coro com os turistas e dizia que o susto estava incluído no pacote (e o medo que eu sentia também devia estar no mesmo pacote, é claro). 
O ônibus deixou nosso grupo numa praça e tínhamos a tarde inteira para passear pela cidade apreciando as belezas do lugar, mas e eu sabia que para descer no final do dia eu teria que usar a mula ou o funicular e nenhum dos dois meios de transporte me inspiravam segurança. Tenho horror a altura! Não pude me furtar em pensar o que eu tinha ido fazer num lugar tão alto se descer era preciso, necessário, indispensável... eu não tinha opção. A Cris continuava a rir da minha cara e teve o maior saco do mundo e ficou comigo até que o último funicular desceu e eu tive que entrar na marra (vai ter medo de morrer assim lá longe...). Até hoje, sempre que tocamos no assunto ela ainda ri da minha cara de medo, mas as duas admitem que aquela viagem à Grecia foi uma das melhores que fizemos juntas, e a vista lá do alto da cidade é imperdível. Mesmo com medo da subida eu encaro um outro passeio naquela romântica e bela ilha.

Viajando nas lembranças de antigas viagens - Ilha de Creta - Grécia


          O balanço suave do navio Triton deslizando sobre as águas do Mar Egeu me ajudou a adormecer e sonhar com a Ilha de Creta, seus personagens mitológicos e suas histórias de lutas e aventuras, de amor e traição. Quando acordei o navio já estava atracado no porto. Eu e minha amiga Cris tomamos nosso café da manhã e desembarcamos apressadas para nos juntar ao grupo que ia fazer o passeio  para conhecer a ilha.  Eu estava emocionada, curiosa,  eu estava em Creta e não via a hora de botar os pés no Palácio de Knossos para ver de perto o palco das histórias que povoavam minha memória e imaginação. Acho que eu me sentia a própria Ariadna de Teseu ou, quem sabe, uma das sete virgens que eram sacrificadas anualmente ao Minotauro. Cruzes! De jeito nenhum eu queria fazer parte daquele séquito. Não sou adepta de sacrifícios.
            Creta é a maior das ilhas gregas, e é uma ilha cheia de montanhas, vales, baías rochosas, longas praias de areia e portos naturais. Seu solo fértil propicia a cultura da uva, cereais, oliveira e frutas, mas é o turismo que alavanca a economia da ilha. A maior cidade  é Heraklion e foi para lá que nos dirigimos para conhecer de perto o tão famoso Palácio de Knossos.
            Uma das figuras mitológicas mais conhecidas na Grécia antiga, que enchia de medo e terror o povo, era o Minotauro, um monstro que era metade homem, metade touro. Sua história era a seguinte:  Poseidon ajudou Minos a se tornar o rei de Creta, mas exigiu em troca que ele sacrificasse um touro que sairia das ondas do mar. O Rei Minos, encantado com a beleza do touro branco, resolveu colocá-lo em sua manada sacrificando outro em seu lugar. Poseidon, em represália pela tentativa de fraude do rei, fez com que Pasífae, mulher do rei, se apaixonasse pelo touro que já havia se transformado numa criatura selvagem. Desta união nasceu o Minotauro.
            O rei Minos mandou encarcerar o Minotauro num labirinto construído por Dédalo. Anualmente sete rapazes e sete moças eram enviados ao labirinto para serem sacrificados ao Minotauro e Teseu decide então ser um destes sete rapazes escolhidos para ir a Creta. Chegando na ilha com a intensão de matar o Minotauro Teseu é visto por Ariadna, filha de Minos, que se apaixona por ele. Teseu promete levar Ariadna para Atenas se sair vivo do labirinto. Ela então dá para Teseu um novelo de lã encantada e uma espada. Ele usa a lã para marcar o caminho percorrido no labirinto e com a espada consegue matar o Minotauro e resgatar os jovens presos no labirinto.
            A mitologia se mistura a realidade das ruínas do sítio arqueológico de Knossos. Ele é o maior sítio arqueológico da ilha de Creta, e as ruínas do palácio revelam uma arquitetura complexa e intrincada, que incluía até um sistema de esgoto, fazendo lembrar um labirinto. Knossos data da civilização minoica.
Quando cheguei ao Palácio de Knossos lembro-me que  fiquei tão fascinada que quase esqueci a história real para acreditar na mitológica. Eu observava cada detalhe, cada pintura mural, olhava fascinada as ruínas da arquitetura do labirinto e acabava misturando  a realidade e a fantasia. Lembro-me também de ter achado a cadeira de madeira que servira de trono ao rei com uma aparência muito pouco confortável. 
Nossa visita estava chegando ao fim e eu parecia uma boba alegre. Eu estava tão feliz por estar ali que eu não me cansava de olhar tudo ao meu redor. Lembro-me até de uma andorinha que vi deitada sobre um ninho que ela havia construído em cima de uma das colunas das ruínas do palácio. Pensei na ocasião: que andorinha chique! Construiu seu ninho num lugar muito especial.
Voltamos ao navio para seguir viagem até Santorine, outra ilha grega cheia de charme e história.

Última dose de ataque do Faslodex

     A primeira  e a segunda dose de ataque do Faslodex me deixaram cheia de erupções vermelhas no local das injeções (faço duas por vez), que coçavam muito. Conversei com a médica que estava de plantão na clínica onde faço quimioterapia e ela recomendou que no dia anterior a terceira dose do Faslodex eu tomasse um comprimido de Allegra, tomasse outro no dia da aplicação e mais um comprimido um dia depois da aplicação para evitar que as erupções vermelhas aparecessem novamente.
     Segui a orientação da médica e parece que está funcionando. As erupções ficaram bem menos evidentes desta vez, mas eu senti bastante dor local e coceira. Para acabar com a coceira a médica recomendou uma pomada de hidrocortizona e está funcionando. Ainda bem.
     Olha, este negócio de adoecer e precisar fazer uso de qualquer tipo de medicação é uma faca de dois gumes mesmo. O remédio conserta uma coisa mas acaba estragando outra... ninguém merece. Todas as minhas juntas, sem exceção, estão doloridas. Meus dedos da mão doem, meus quadris, joelhos, pés e para piorar as coisas ainda tive diarréia a semana passada inteira. Eu não saía do trono... Mas como desgraça pouca é bobagem, também fico exausta por quase nada. Me canso muito fácil, e é tudo efeito colateral dos remédios. 
     Infelizmente, só me resta mesmo a alternativa de aprender a conviver com estes efeitos colaterais se quero realmente continuar me tratando deste maldito câncer metastático. Já me darei por satisfeita se na próxima bateria de exames ficar evidenciado que continuo vencendo a doença.

Viajando nas lembranças de antigas viagens - Rhodes e Lindos


     O amanhecer ensolarado no Mar Egeu recebeu o Navio Triton no porto de Mandraki na Ilha de Rodes, a maior das ilhas do Dodecaneso.
Dodecaneso é um grupo de doze ilhas que ficam situadas a leste do Mar Egeu, próximo da costa da Turquia.  A cidade medieval de Rodes ou Rhodes, tanto faz, é a capital do Dodecaneso.  Hoje ela também ostenta o título de Patrimônio Histórico da Humanidade. A ilha é famosa desde a antiguidade  porque era lá que ficava uma das Sete Maravilhas do mundo antigo: o Colosso de Rhodes.
O Colosso de Rodes era uma enorme estátua oca, feita em ferro e bronze, representando o deus do sol Hélio. Ela ficava na entrada do porto de Mandraki, o que obrigava os barcos que chegavam a passar entre suas pernas.  A estátua, que media cerca de 33 metros de altura, ficava em pé sobre duas colunas altas e segurava uma tocha, que servia de farol,  na mão direita que ficava erguida.
O Colosso de Rodes demorou 12 anos para ser construído, mas foi derrubado por um terremoto uns sessenta anos depois de concluído. No lugar da estátua, na entrada do porto, foi colocado dois pequenos cervos sobre duas colunas. Eles são os símbolos da ilha.
Para quem gosta de curiosidades e de mitologia como eu gosto é bom saber que o nome da ilha tem a seguinte origem: Poseidon, ainda bebê, foi deixado por Reia aos cuidados dos telchines, primeiros habitantes da ilha, e de Capheira, filha de Oceano.  Poseidon cresceu e se apaixonou por Hália;  eles tiveram seis filhos e uma filha chamada Rode, que deu nome à ilha.
Depois de passear em Rhodes  fomos conhecer Lindos, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade,  que fica a apenas 50 quilômetros da capital, na costa Leste. O nome, sem sombra de dúvida, faz juz ao lugar. Lindos é muito linda mesmo.  Do alto da acrópole, construída em homenagem a deusa Atenas,  a vista é fantática por todos os lados que se olhe. O Templo, sem sombra de dúvida, foi um importante centro religioso na antiguidade. Lá embaixo a ilha é rodeada pelas típicas casinhas brancas da região.
A subida  até o alto da colina onde fica a acrópole é íngreme, mas pode ser  feita também  com a ajuda dos burricos mansos que ficam aguardando pacientemente um turista mais preguiçoso e cansado. Logo no início da subida o guia chamou nossa atenção e mostrou o relevo de um trirreme rodiano, um navio de guerra esculpido na pedra, em seguida nosso grupo subiu a pé a longa escadaria de acesso.
A Acrópole de Lindos é uma cidadela natural que foi fortificada sucessivamente por diferentes civilizações, por isto a diversidade de estilos arquitetônicos num mesmo lugar.  As muralhas que cercam o local são do século XIII e foram construídas pelos Cavaleiros da Ordem de Malta.  Além deles o local foi conquistado pelos gregos, romanos, bizantinos , e os otomanos em diferentes épocas. 
      No final da tarde, com o sol ainda brilhando no céu azul, voltamos para o navio. Nosso próximo destino era Creta e eu não via a hora de desembarcar naquela ilha cheia de histórias, de palácios, heróis e monstros...

Viajando nas lembranças de antigas viagens - Ilha de Patmos

       Nosso navio ancorou no Porto Skala em Patmos no meio da tarde, e o calor abrasador do verão grego nos envolveu de tal forma que ainda jhoje tenho a sensação de que meu corpo sua em bicas,   como naquele dia. Memória é uma coisa curiosa...
Saímos do porto em direção a Chora. Subir a pé pela estrada sinuosa foi um desafio por causa do intenso calor, e era uma boa subida até o alto da colina. No meio do caminho entre Chora, que é a capital da ilha, e o mosteiro, paramos na gruta de João Evangelista que, segundo a crença, foi o local onde São João recebeu as visões para escrever o Apocalipse.
A gruta é uma pequena caverna rústica. Lembro-me do guia nos mostrar um buraco na pedra e dizer que era lá que João apoiava a cabeça para dormir. Imagino o desconforto que devia ser aquilo... ser santo não devia ser fácil...
Depois de visitar a gruta e ver o local marcado na rocha era inevitável parar um pouco para uma breve reflexão. Concluí, por exemplo, que não tenho a menor vocação para ser santa. Não sou dada a grandes sacrifícios.
Mas voltemos a Patmos, uma ilha pequena com área total de apenas trinta e quatro quilômetros quadrados, rodeada por águas de um indescritível azul turquesa do Mar Egeu. Saímos da gruta de São João e continuamos nossa subida em direção ao Mosteiro do Apocalipse, no alto da colina, construído em 1088 sobre as ruínas de um antigo templo da deusa Ártemis. O mosteiro ortodoxo lembra um castelo medieval com muros altos e bastiões (a partir de 1999 ele passou a ser considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco).
O mosteiro domina a paisagem da ilha cheia de casinhas brancas. É decorado com ricos afrescos, e guarda um tesouro constituído de manuscritos do século VII, mitras e ícones esculpidos em madeira, que fizeram valer o sacrifício da caminhada debaixo daquele sol abrasador.

Reação alérgica ao Faslodex e um motorista na contra-mão

     Quarta-feira fui ao Laboratório Sabin fazer exame de sangue para a quimioterapia de hoje, e foi aquela novela mexicana conseguir puncionar uma veia. A primeira técnica de enfermagem furou, furou e nada de sangue; a segunda tentou e nada, mas a terceira, que sem dúvida sabia o que estava  fazendo, não teve a menor dificuldade em puncionar uma veia e retirar todo o sangue necessário para o exame. 
     Hoje fui cedo para a clínica Onco-Vida  fazer o herceptin e mais uma vez foi aquela dificuldade em puncionar uma veia boa, e isto depois de ter passado o dia inteiro de ontem tomando água de côco e fazendo exercício com a bolinha.
      Antes de iniciar o herceptin a médica que estava de plantão na clínica foi me examinar porque depois da segunda dose do faslodex fiquei com erupções vermelhas no local da injeção, além de uma coceira infernal. Ela me disse que não é comum acontecer este tipo de reação alérgica, mas que também não é nenhum bicho de sete cabeças.  A recomendação foi para tomar um comprimido de Alegra na véspera da próxima dose que está prevista para o dia 8 de março; tomar outro comprimido de alegra no dia da aplicação e mais um no dia seguinte. Isto deve resolver o problema da alergia. Ela também prescreveu uma pomada para diminuir a coceira. Espero que dê certo.
     Depois que saí da clínica fui caminhando devagar,  tomando cuidado com o lugar onde pisava  porque ainda estou com o pé quebrado e não posso pisar em falso. O meu carro estava estacionado quase em frente a clínica, mas quase fui atropelada por um motorista irresponsável que dirigia uma Van escolar, e que avançou com a Van na contra-mão da pista. Se não fosse minha irmã gritar e me puxar para trás eu estaria neste momento mortinha da silva, pois o carro teria me atingido em cheio.
     O motorista inconsequente e irresponsável acelerou e desapareceu do meu campo de visão tão rápido que não foi possível sequer ler a placa do carro. Uma pena, pois um motorista cretino como aquele merecia ser denunciado, principalmente porque ele carrega crianças numa Van escolar. Isto, sem sombra de dúvidas, é o resultado da falta de fiscalização e da impunidade que corrói nossa sociedade.