Viajar para cidades pequenas na Europa é uma experiência que está valendo a pena. Desta vez vim parar em Dinard, uma estação balneária na Bretanha que costuma ser destino de férias para os franceses, belgas e alguns outros europeus, mas que poucos brasileiros conhecem por não fazer parte do circuito turístico convencional. Aliás, acho até que a Bretanha, de um modo geral, não faz parte do circuito turístico oferecido aos brasileiros, o que é uma pena.

     A Bretanha é aquela pontinha da frança que lembra a ponta do mapa de Minas Gerais. É o fim do mundo "finistère", é onde o vento faz a curva, mas não é onde o Judas perdeu as botas. É uma região que fica nos confins da frança com paisagens belíssimas, boa gastronomia (usam produtos frescos e de qualidade, o que realça o sabor) e preços acessiveis.

     Por ser  uma região cercada pelas águas do Oceano Atlântico e do Canal da Mancha é naturalmente uma terra de marinheiros. Aliás, as crianças bretãs são iniciadas ainda muito jovens na arte da navegação. Os quilômetros de litoral da Bretanha são compostos de belas enseadas, praias a perder de vista, penhascos íngremes, cidades medievais e muitos portos com casas de pedra. O  verde que colore as águas do Canal da Mancha, na Costa da Esmeralda é de tirar o fôlego. Lindo demais! A Costa Selvagem, a Costa de Granito Rosa e a Costa das Lendas são lugares que valem uma visita.

     Os pratos típicos da Bretanha são as galletes, e os crepes recheados com geléia de fruta. Os mariscos são servidos em todos os restaurantes. É difícil passar por algum sem se ver um balde colorido sobre uma das  mesas, para os comensais depositarem as conchas descartadas. Outubro é o mês da alta estação para a pesca do coquille de Saint Jacques, um molusco da família da vieira. A concha em forma de leque desse molusco, é aquela concha do quadro de Botticelli que representa o Nascimento da Venus e também a da propaganda da Shell que conhecemos tão bem. É proibida a pesca desse molusco durante o verão, por isto este prato é tão aguardado para ser servido nos meses de inverno.

     As regiões costeiras da Bretanha são chamadas de Armor (o mar) e as regiões centrais o Argoat (a floresta). A Costa do Granito Rosa é considerada um dos lugares mais bonitos da França.

     No idioma bretão Bretanha é chamada Breizh. Os nativos são chamados brezihlien, assim como são chamados os brasileiros que por aqui aparecem. Os bretões costumam ser muito simpáticos. Pelo menos todos aqueles com os quais tive contato até agora. Outro dia, por exemplo, fui ao correio postar uma correspondência e quando a funcionária me entregou os selos a Helena perguntou onde estava a cola e ela nem titubeou, simplesmente fez o gesto de quem lambe para mostrar que bastava lamber o selo para colar no envelope. Parece que aqui em Dinard a língua continua sendo um instrumento de mil e uma utilidades...

     Os bretões são muito orgulhosos de sua região e com toda razão. As paisagens são lindas por todos os lados onde a vista alcança. As praias ficam mais vazias, ou menos cheias, o que é muito mais conveniente. Quem dita o ritmo do mar e de quem o utiliza são as marés, as mais fortes do mundo. A diferença chega a ser de até 14 metros. São impressionantes. O mar simplesmente desaparece em algumas horas do dia deixando os barquinhos encalhados na areia a espera da próxima maré alta que cobre tudo de água novamente e faz as ondas quebrarem sobre as calçadas e as passagens dos pedestres ao longo dos penhascos que margeiam as praias.