A noite foi chuvosa e um vento forte sacudia as árvores em frente nosso apartamento, projetando uma sombra sinistra e inquieta nas paredes claras. O sibilar do vento lá fora não deixava dúvidas que o ar estava gelado, e a bruma espessa que encobria a cidade impedia nossa visão poucos metros além da janela, mas o aquecedor mantinha nossa casa quentinha e acolhedora. Estávamos protegidas.

     No outono da Bretanha o dia amanhece devagar, sem pressa, quase com preguiça, e só depois das nove horas da manhã a claridade resolve deixar a cidade clara, mas ontem o tempo estava encoberto. Pensei: o dia não parece muito bom para irmos ao Monte Saint Michel. Ainda bem que o David vem nos pegar apenas às 11 horas. Quem sabe até lá o tempo melhore...

     Às onze horas em ponto o David chegou e saímos para mais uma aventura em nossas férias na Bretanha. Estávamos todos muito bem agasalhados, eu coloquei até uma touca quentinha para proteger as orelhas do vento frio e cortante, afinal estávamos indo para o Monte de Saint Michel e lá é muito aberto e costuma ficar gelado.

    Tínhamos rodado de carro uns dez minutos quando o tempo, milagrosamente, abriu para deixar o sol sair. O céu, antes encoberto, ficou azul, um azul de brigadeiro. Era inacreditável, mas o tempo estava perfeito para um passeio como o nosso. Realmente Deus é brasileiro e muito nosso chapa. Ele nos presenteou com um dia perfeito e ensolarado para um passeio no terceiro cartão postal mais visitado da França, o Monte de Saint-Michel, na Normandia.

     Antes do Monte ser o que hoje ele é, naquele local entre a Normandia e a Bretanha, entre Cancale e Granville havia apenas um pequeno penedo de granito chamado Monte Tombe que media oitenta metros de altura. Aos poucos o mar invadiu a terra plana ao redor do monte levando também suas marés, que estão entre as mais fortes do mundo. Só para se ter uma ideia da força das marés que atingem o Monte de Saint-Michel o David nos contou que elas percorrem, em poucas horas, vinte quilômetros à velocidade de um cavalo a galope e sobem até 15 metros de altura. Muitos turistas desatentos já pereceram naquelas águas por causa da subida alucinada das marés. Hoje existe uma fiscalização atenta no local para evitar que este tipo de tragédia se repita. 

     Nos dias de hoje o Monte Saint-Mihel só fica cercado de água nas grandes marés que ocorrem no equinócio (entre os meses de setembro e outubro principalmente), cinquenta e três dias por anos, durante algumas horas. Para lhe devolver sua condição original de ilha desde 2005 uma enorme obra de planificação da baía e obras de desaneração e de recuo do dique-estrada e do parque de estacionamento está sendo feita. A grande passarela que levará o turista do estacionamento até a entrada das muralhas está quase pronta Até 2015 o Monte Saint-Michel voltará a ser a ilha que sempre foi.

meios de transportes que levam os turista

do estacionamento e dos hotéis 

até a entrada das muralhas

         A construção da Abadia teve início no ano 709 pelo bispo de Avranches, em homenagem a São Miguel Arcanjo. Com a ascenção do cristianismo no Ocidente cristãos fervorosos instalaram-se no Monte para viver como ermitãos em solidão e pobreza e o monte se transforma num importante local da fé cristã.

     As ruas estreitas dentro da fortaleza que cerca a Abadia de Saint-Michel estão repletas de lojas vendendo lembranças, restaurantes e até hotéis e, lógico, muito turistas. Uma horda deles. É uma confusão enorme e muita gente se esbarrando num espaço tão pequeno.

     O acesso a abadia é feito por escadas, muitas escadas. São mais de 300 degraus, haja fôlego e disposição para se chegar no topo. Ainda bem que no meio do caminho, e das escadas, existem alguns mirantes para fazer uma pausa na subida e ajudar a recuperar o fôlego. Uma espiadinha na vista também vale a pena. É linda!