Dor neuropática e uma gripe que se anuncia

         Quando o médico é bom o correto é divulgar.
     Depois que fiz quimioterapia na última quinta-feira fiquei muito debilitada e cheguei toda estragada no consultório da Dra. Alexandra. Ela me recebeu com carinho e atenção e foi muito cautelosa com o diagnóstico e a escolha da medicação que poderia resolver os problemas causados pelos efeitos colaterais dos quimioterápicos que uso há tantos anos. 
        Depois que recomecei a fazer quimioterapia há mais de oito anos, por causa das metástases de um câncer primário de mama, já usei muitas medicações, cada uma com diferentes efeitos colaterais. Um dos efeitos colaterais que me acometeu logo no início do tratamento foi neuropatia. Fiquei com as mãos e pés bem estragados por causa desse efeito colateral, mas agora só a ponta dos dedos das mãos continuam incomodando. No geral recuperei todas as funções da minha mão e não sinto mais dor nem incômodo algum. Nos pés o que ainda incomoda é a sensação de que tenho um toco preso na planta dos pés, mas pelo menos não sinto dor, o que já é um grande negócio.
      De algum tempo para cá tenho sentido uma coceira que evolui para uma ardência nas costas e depois vira uma dor infame que me impede caminhar, por menor que seja o percurso. Não tenho nenhuma lesão no local, mas a coceira incomoda bastante e deixa o local dolorido. Eu já tinha procurado uma dermatologista que não viu nada errado com minhas costas e a coceira, a ardência e a dor continuaram no mesmo lugar.
     Semana passada fui consultar a Dra. Alexandra Gervazoni exatamente por causa desta dor nas costas, pois vou passar uma curta semaninha em Curitiba e meu prazer que é caminhar pode ficar prejudicado por causa da dor. Conversamos sobre como a dor se comporta e ela concluiu que esta dor pode estar relacionada com a neuropatia que me acometeu lá atrás, no início do tratamento.
     A Dra. Alexandra até sugeriu que eu fizesse um exame para confirmar a neuropatia, mas com as festas de final de ano achei melhor adiar o exame para o início do próximo ano. De qualquer forma ela prescreveu gabapentina 300mg e com apenas uma semana de uso da medicação percebi que a coceira infame que eu sentia na palma das mãos e dos pés diminuíram e a dor nas costas cedeu um pouco. Só não posso garantir que a dor está realmente melhor porque fiz o zometa junto com a quimio e esta medicação provoca dor no corpo inteiro. Aí, uma dor mistura com a outra e dói tudo, dói cada pedacinho do corpo.
     Ontem voltei ao consultório e reclamei de coriza e tosse. Não posso gripar porque minha imunidade está muito baixa e uma simples gripe pode até ser fatal para mim. Viajar então... nesta situação é um luxo que não posso ter.
     Novamente a Dra. Alexandra avaliou a situação e prescreveu nimesulid por três dias e xarope de loratadina por cinco dias. A tosse cedeu como por encanto e consegui dormir muito bem. Um luxo. Acordei me sentindo muito melhor e agradecida a Deus por ter colocado uma médica tão comprometida com seus pacientes em meu caminho. Tenho certeza de que estarei em forma até sexta-feira, prazo que ela prometeu que eu ficaria bem, caso contrário eu terei que fazer alguns exames e procurar um hospital. 

Imunidade baixa e quimioterapia

     Depois de uma semana de folga por causa da baixa imunidade hoje fiz mais uma aplicação de quimioterapia, apesar da imunidade continuar um pouco baixa. Os segmentados subiram um pouco nesta última semana mas ainda estavam abaixo de 1.500, que é o valor ideal, e também abaixo dos 3.000 que também é o ideal para a taxa de leucócitos.
     Minhas taxas estão em 1.080 para os segmentados e 2.700 para leucócitos então, apesar de não ser o ideal, pude fazer a quimioterapia que durou quase seis horas. Volto na clínica amanhã para tomar o neulastim, uma vacina para fazer subir a imunidade. Dizem que é o último grito para um remédio que promete resolver o problema da imunidade, mas mesmo assim continuo com leucopenia. A medicação, pelo jeito, não está dando conta de resolver o meu problema. Para completar o quadro, o resultado do hemograma ainda relata poiquilocitose, isto é, as hemácias adquirem uma forma anormal e ainda estão abaixo do valor de referência que é de 4.000.
     Apesar de tudo tenho que me dar por satisfeita pois não apresento nenhum sintoma preocupante apesar destas taxas. Depois que ficou resolvido o problema do hipertitoidismo estou me sentindo bem, e isto já é muito bom para quem está fazendo quimioterapia há tanto tempo.
     Na última sexta-feira passei por uma consulta com o Dr. Fernando e ele disse que meu exame clínico está ótimo. Com tantos altos e baixos e depois de ter me sentido quase morrendo, me sinto renascida como uma fênix. Quando pensam que vou partir consigo renascer das cinzas... Sou uma Fênix.  

O resgate do gatinho

     Anoitecia e uma chuva insistente e fria caia sem parar. De vez em quando, no aconchego da sala de estar, dava para ouvir um miado de filhote de gato vindo do jardim que fica na frente da casa. Estava escuro e da janela não dava para enxergar o bichano, mas seu miado não deixava dúvidas: havia um filhote de gato chorando no meio das plantas altas do jardim.


     Quando minha filha chegou ouvimos um miado mais forte e insistente e, como a chuva havia dado uma trégua, resolvemos investigar. O Henrique acendeu a lanterna do celular mas assim que avistamos o gatinho ele saiu correndo em disparada para a rua e entrou no jardim da casa vizinha.
     A Bárbara tocou a campainha da casa e assim que foi atendida tentou pegar o filhote que se esquivava e fugia. Depois de algumas tentativas frustradas ela desistiu, voltou para casa e  me pediu para tentar capturar o gatinho fujão. Fui até o jardim e consegui pegar o filhote. Ele estava todo molhado e muito assustado, mas ficou bem quietinho em meu colo assim que o aconcheguei nos braços.


     Voltamos para casa correndo para secar o gatinho. Era um filhote preto rajado, bem pequeno e com enormes olhos amarelos. Demos ração e o colocamos numa caixa de gatos na varanda do quintal enquanto tentávamos capturar seu irmão que já tinha dado um olé em todos que tentaram pegá-lo no jardim. O pobrezinho estava tão assustado que rosnava e tentava atacar qualquer um que ameaçasse apanhá-lo. Depois de várias tentativas frustradas o outro gatinho simplesmente desapareceu entre as plantas como por encanto. Desistimos de encontrá-lo, mas deixamos comida e água perto da casinha do irmão para que ele pudesse se alimentar, caso resolvesse aparecer no meio da noite.


     No dia seguinte vimos que a comida e a água haviam desaparecido mas não havia o menor sinal do gatinho bravo e assustado. Ele havia desaparecido. Levamos o filhote resgatado para dentro de casa e em poucos minutos ele já se sentia o dono do pedaço. Corria para todos os lados conferindo os móveis e procurando um lugar onde pudesse brincar e se esconder. A árvore de natal passou a ser seu parque de diversões. Ele subia até o topo, jogava as bolinhas no chão e saia correndo e brincando com as bolinhas caídas no chão. Brincava até se cansar e depois dormia um soninho gostoso, enrolado em qualquer cantinho escondido, longe do alcance da cachorra da casa que morria de ciúmes do gato.



     Fico me perguntando: como é que uma pessoa consegue ter coragem de abandonar um filhote de gato à própria sorte, na rua, a noite e debaixo de chuva? Tem que ser uma alma muito ruim. Ainda bem que o Thor teve a sorte de encontrar minha casa. Aqui todos gostam de animais.
     

Alergia a antialérgico?

     Quando fiz o quinto ciclo da nova quimioterapia, antes de cair no sono profundo por causa do antialérgico, percebi que minha mão e parte do antebraço estavam cheios de manchas vermelhas. Chamei minha irmã e pedi que ela chamasse alguém da enfermagem. Aos enfermeiros solicitei que chamassem um médico porque eu, sem sombra de dúvida, estava tendo um processo alérgico.
     Os enfermeiros além de não chamarem o médico de plantão ainda duvidaram que eu estivesse tendo alergia e um deles ainda falou: Você só está tomando soro com antialérgico.  Não é possível que você tenha alergia ao antialérgico. Você já usou esta medicação antes e nunca aconteceu nada. Retruquei: está na cara ou melhor, nas mãos e no antebraço, que hoje estou tendo um processo alérgico. Não é possível que vocês queiram esperar eu ter um choque anafilático para tomar alguma providência. Chamem um médico ou fechem logo o acesso do soro com o antialérgico antes que eu tenha um piripaque.
     O enfermeiro chefe foi até o box onde eu estava e decidiu fechar o acesso por dez minutos para ver o que iria acontecer, mas assim que eles abriram novamente o acesso do soro as manchas vermelhas espalharam pelo antebraço. Percebendo que a coisa era séria eles decidiram retirar o soro com o antialérgico difenidrin e colocaram outro soro com outro tipo de antialérgico para correr na veia. As manchas diminuíram, mas só desapareceram por completo depois que fui para casa.
      Foi um susto e tanto e fiquei imaginando o desastre que teria sido se eu estivesse fazendo a quimioterapia no cateter, pois neste caso a quimioterapia cai direto no coração e até aparecer alguma reação no corpo eu já teria tomado uma grande quantidade do remédio. Eu poderia ter morrido? Talvez, não sei, mas teria sido um problema. Mas, como eu sempre falo, nascemos com prazo de validade e ninguém morre antes da hora. Ou morre?
     No dia seguinte à quimioterapia, às 7 horas da manhã, tive consulta com o Dr. Fernando. Relatei sobre a alergia ao antialérgico durante a quimioterapia e fiz algumas considerações sobre o resultado do exame de sangue que demonstrou que todo o quadro horroroso que eu apresentava como perda de peso, irritabilidade, fraqueza muscular, tonteira e outras coisas ruins eram na realidade consequências do hipertiroidismo, exarcebadas, talvez, pela quimioterapia. A absorção do syntroid deve ter ficado alterada, talvez por causa da nova químio ou sei lá o porque, provocando o problema. Meu TSH chegou a 0,08 quando o ideal é dois.
    O Dr. Fernando decidiu  manter o novo protocolo até o final deste ano e em janeiro farei um novo PET para ver se o câncer regrediu ou não. Vou torcer para que todo o mal estar que senti até agora tenha servido ao menos para diminuir as lesões, mas o que eu queria mesmo era ficar livre do câncer e das sessões de quimioterapia.
      

A alegria dos passarinhos após a primeira chuva da primavera

     Ontem a tarde caiu a primeira chuva da primavera encharcando o solo vermelho do cerrado, rachado e ressecado pela longa estiagem. A chuva caiu forte e sem pressa de parar, e o vento soprou forte também balançando sem dó os galhos das árvores e as longas folhas das palmeiras. O barulho do vento zumbia ameaçador pelas frestas das portas e janelas, metendo medo nas pessoas, enquanto a chuva geladinha caía lá fora aliviando o forte calor das últimas semanas e alimentando o lençol freático já quase esgotado.


     Hoje o dia amanheceu fresquinho, do jeito que eu gosto. Fui cedo para o quintal apreciar a festa da bicharada e percebi que os filhotes dos pássaros, já bem crescidos, eram alimentados pelos pais nos galhos das árvores. Eram muitos filhotes de periquitos verdinhos, já do tamanho dos pais, reclamando pela comida fácil. Havia pombos, sabiás, joão de barro e outros que nem sei o nome pulando do pé de graviola para o ipê e de lá para a pitangueira e para a acerola. Era uma festa bonita de se ver.


     Fiquei lá fora um bom tempo observando os passarinhos fazendo algazarra numa cacofonia maluca de sons e cantos. Vi os periquitos cortando as favas do ipê para alcançar suas sementes e a sabiá se banqueteando com as pitangas maduras. O joão de barro bicava o solo molhado em busca de minhocas e o bem-te-vi ciscava as folhas secas dos canteiros para encontrar algum petisco escondido. Todos se deram bem e saíram voando de papo cheio.

flor de caliandra


     Fui então dar uma caminhada pelo condomínio e vi um beija-flor alimentando seus filhotinhos no pequeno ninho feito no galho de uma enorme árvore, num terreno ainda vazio. Pouco antes eu tinha visto este mesmo passarinho se alimentando do néctar das flores do meu jardim. Ele enfiava o longo bico até nas flores ainda em botão para alcançar o alimento para seu filhote. Que coisa mais linda este frágil e delicado passarinho.




     O sol começou a esquentar então voltei devagar para casa acompanhada da minha cachorra velhinha. Ela adora dar uma volta pelas ruas, mas como está velha e cheia de dores não consegue andar muito tempo. Eu também não estou conseguindo andar muito, então somos o par perfeito para uma curta caminhada.

Melhorando dos sintomas do hipertiroidismo

     Após uma semana usando a dosagem menor do syntroid estou me sentindo outra. Nem de longe pareço a mesma pessoa que sábado passado não parava de vomitar e passar mal. Engordei um pouco, agora estou pesando 63kg e até prefiro manter este peso.
     Observei também que estou dormindo melhor, pois não estou mais acordando durante a noite como estava acontecendo. Tenho dormido direto até as seis da manhã. Ainda sinto um pouco de tonteira, mas elas também diminuíram a intensidade.
      Todos aqui em casa já notaram o quanto melhorei. É incrível pensar que um simples remédio possa fazer tanta diferença. Vou ficar mais atenta a dosagem dos hormônios T3 T4 e TSH daqui para frente pois as consequências do hiperteroidismo são catastróficas. Não quero sentir aquilo nunca mais.

Hipertireoidismo e quimioterapia

     Iniciei o novo protocolo de quimioterapia, que inclui o Perjeta e a Carboplatina além do Herceptin, no dia 18 de julho deste ano.  Fiz quatro ciclos até agora e os efeitos colaterais conseguiram me deixar muito debilitada, mais do que o médico supõe como razoável para este tipo de medicação.
     Como não costumo ser fiteira e muito menos invento o que de fato não estou sentindo comecei a pensar que poderia ter outro motivo para eu estar me sentindo tão enfraquecida. Nos últimos meses perdi 9 kg sem ter alterado minha dieta, sinto uma fraqueza muscular intensa nas pernas e braços que me deixa com a sensação de que não consigo segurar um copo, meu sono ficou irregular, sinto tonteira e até ansiedade e ando irritada além do normal. Relatei estes sintomas em todas as consultas, mas tenho a impressão de que não fui levada muito a sério.
     Quando tive uma crise de labirintite durante uma consulta com o Dr. Fernando ele me encaminhou direto para um otorrino de sua confiança para um exame e solicitou uma ressonância magnética do cérebro. O resultado do exame foi normal e o otorrino concluiu que a tonteira era postural e consequência das quimioterapias que intoxicam meu corpo.
     Antes das quimioterapias tenho que fazer exame de sangue então, na consulta antes do quarto ciclo, sugeri que incluíssem no pedido a dosagem hormonal (T3 T4 e TSH) para conferir se não havia uma descompensação desses hormônios, já que não tenho tireóide e faço reposição com remédio.
     Bingo! O exame revelou que meu TSH está baixíssimo, em 0,08. Isto esclarece todos os sintomas dos quais tenho me queixado nos últimos tempos, inclusive o emagrecimento súbito sem mudança de dieta. Como é que os médicos não pensaram nesta hipótese?
     Tenho a impressão de que a medicina ficou especializada demais e os médicos não conseguem olhar o paciente como um todo. Os médicos ficam tão focados em sua área de atuação que dão a impressão de que não ouvem a queixa do paciente quando esta foge aos sintomas elencados como consequência do tratamento. Se a queixa não está dentro do protocolo ou da bula do remédio ela não existe.
     Já conversei  por telefone com minha endocrinologista, que está em licença gestante, mas mesmo assim fez questão de me atender, e ela disse que estou super medicada então mandou eu passar a usar o syntroid 100, considerando meu peso atual de 61 kg, ao invés do 137 que eu vinha fazendo uso. Daqui a quatro semanas farei novos exames de sangue para medir a dosagem hormonal para saber se mantenho ou não a dose atual do remédio.
     Tenho certeza de que agora vou começar a me sentir melhor. O que me deixa triste é pensar que todo o mal estar que eu vinha sentindo poderia ter sido evitado com um simples pedido no exame de sangue.

Reajustando a dose da carboplatina

     Quinta-feira tive a consulta com o Dr. Fernando para ver o resultado do PET e definir como ficará o protocolo de quimioterapia daqui para frente. O câncer no esterno avançou um pouco mas, na opinião do médico, um avanço em torno de 10% não é nenhum problema grave. As outras metástases continuam sob controle. Menos mal, mas definitivamente não foi o resultado que eu gostaria, afinal, depois de tantos efeitos colaterais com o novo protocolo eu esperava um resultado bem melhor (na minha opinião de leiga, é claro).
     O Dr. Fernando decidiu manter o mesmo protocolo, mas reduziu um pouco a dose da carboplatina por causa dos efeitos colaterais que estão me tirando do sério. Acabei não podendo fazer a químio que estava programada para a quinta-feira porque, mesmo tendo tomado as cinco doses do granuloquine, minha imunidade continuava baixa demais. Vou fazer o quarto ciclo na próxima quinta.
     Perguntei quantos ciclos terei que fazer com a carboplatina e a resposta, definitivamente, não me agradou. Ele respondeu que irá depender da resposta da doença a quimioterapia. Então, considerando meu atual estado de espírito, resolvi que está na hora de usar um remédio que me ajude a manter o nível de serotonina em alta para restabelecer meu bom humor e ânimo, afinal não quero continuar fazendo uma químio pesada que me impede até de pensar em sair de casa para uma simples caminhada.
     Conversei também com a Dra. Daniele que me falou sobre o avanço nas pesquisas relacionadas ao câncer de mama. As novas drogas que estão chegando no mercado prometem revolucionar, cada vez mais, o tratamento do paciente oncológico. Vamos aguardar.
    

Aguardando o resultado do PET

     O terceiro ciclo do novo protocolo conseguiu me nocautear por vários dias, pois além das quimioterapias também precisei fazer o zometa e cinco doses do granuloquine e estas duas medicações provocam muitas dores no corpo. Dói cada pedacinho, dói lá dentro do osso... Foram dias difíceis, senti muita fraqueza e mal estar e, como se isto fosse pouco, as crises de tonteira resolveram dar o ar da graça novamente. Agora basta deitar e girar o corpo que ela vem feito uma locomotiva desgovernada e me joga numa espiral enlouquecedora me dando a impressão que caí bem no olho de um furacão tropical... É muito ruim, mas o pior já passou.
     Na última terça-feira fiz outro PET para que meu oncologista possa avaliar se o novo protocolo está realmente funcionando. Na próxima quarta-feira vou ao médico porque na quinta está agendado o quarto ciclo da nova quimioterapia. Vamos ver o que me aguarda... Quando o mal estar melhora está na hora de fazer outro ciclo de químio e começar tudo de novo... Haja paciência.
     Aguardar o resultado do PET é um misto de emoções contraditórias porque nunca dá para ter certeza do que irá aparecer no resultado. Já houve ocasião que eu jurava que tudo estava bem e o resultado foi um desastre, em outras eu podia jurar que era fim de linha e tudo tinha melhorado. Doença mais maluca. 

Semana difícil

     Ando impaciente com todos estes sintomas e efeitos colaterais do novo protocolo de quimioterapia. Acho que cheguei no meu limite de tolerância para suportar com bravura todos os altos e baixos de um tratamento tão difícil... Estou de saco cheio disto tudo. Está muito difícil perceber luz no fim do túnel.
     Depois do terceiro ciclo da quimio voltei a sentir muita tonteira e mal conseguia ficar em pé. Na noite da terça-feira, antes de deitar, fiz o exercício que o otorrino ensinou e assim que me sentei novamente na cama senti como se alguém muito forte me empurrasse com força puxando para trás. Sem controle, caí de costas na cama, o mundo girou feito louco e não consegui me mover. Não sei quanto tempo fiquei ali parada esperando a tonteira melhorar. Não tive coragem de levantar, então acabei dormindo com a luz acesa e voltei a acordar por volta das quatro horas da manhã, já me sentindo um pouco melhor. Consegui levantar sem tonteira e foi mais fácil fazer a manobra de Brandt Daroff para tentar recolocar no lugar certo os pequenos cristais do ouvido interno.
     Acho que o terceiro ciclo foi muito pesado, pois além da carboplatina com seus efeitos colaterais, ainda precisei fazer o zometa que provoca muitas dores no corpo e também precisei fazer cinco doses de granuloquine (por causa da baixa imunidade) que também deixa o corpo todo dolorido. Foi uma pancada muito forte e eu me senti um trapo durante todos estes dias. Hoje estou me sentindo um pouco melhor, menos dolorida mas ainda um enjoada e muito cansada.
    


 

Cadê meu presente?

      Tenho a impressão de que o mundo está mesmo perdido, não tem mais conserto.
     Um amigo jornalista que está em contagem regressiva para viver um ano no Exterior onde fará uma especialização, contou-me muito contrariado que antes de sair de São Paulo, onde morou por mais de dois anos, resolveu doar sua máquina de lavar para uma idosa com mais de 70 anos que vive sozinha e ainda precisa ganhar a vida fazendo faxina. 
      Dona Idosa ficou muito feliz quando meu amigo resolveu lhe presentear com a máquina de lavar, que apesar de usada ainda funcionava muito bem. Menos de 500m de distância separava a casa deles, mas era preciso contratar alguém que tivesse carro para que a máquina pudesse ser transportada. Dona Idosa não teve dúvidas em chamar o mesmo taxista que já fizera algumas corridas para ela e as amigas assistirem a um evento religioso que acontecia em local distante. Era seu velho conhecido, então o chamou para transportar o presente.
      O taxista entrou no apartamento do meu amigo e fez questão em ajudar a carregar alguns pratos, copos e utensílios que D. Idosa ganhou além da máquina e assim que tudo ficou acomodado no carro saiu. Chegando na casa de D. Idosa ele retirou todos os materiais pequenos deixando a máquina para o final. Ela, feliz com os presentes, foi levando tudo para seu pequeno apartamento, e voltou saltitante até a rua para receber sua tão preciosa máquina de lavar, mas qual não foi sua surpresa: não havia sinal do carro, do taxista ou da máquina. A rua estava completamente deserta.
      Dona Idosa olhou para todos os lados, esperou um pouco, voltou até sua casa, e depois de alguns minutos de perplexidade concluiu que havia sido ludibriada pelo motorista de sua confiança. Ele havia desaparecido levando seu presente e ela, que além de idosa ainda vivia sozinha no pequeno apartamento, não tinha ninguém a quem recorrer e teve medo de denunciar o malandro e ainda acabar sofrendo alguma maldade por isto.
      É lamentável que um homem saudável e pleno de vigor, que ganha a vida dirigindo pela grande São Paulo, tenha a coragem e a cara de pau de furtar uma pessoa idosa e que ainda trabalha fazendo faxina para poder sobreviver. Ele sabia, tinha certeza absoluta de que ela não teria coragem em denunciá-lo porque além de viver sozinha ainda é idosa. Ela ficaria com medo e se calaria. Jamais teria coragem de ir até uma delegacia registrar uma ocorrência como esta.
      Um sujeito como este taxista merece, no mínimo, uma surra daquelas. É um ladrão de galinhas muito sem vergonha que só tem coragem mesmo é de furtar velhinhas indefesas.

Meu fluxo salivar parece ter voltado ao normal

     Quinta-feira fiz a segunda dose do novo protocolo de quimioterapia, após ter adiado o tratamento por duas semanas por causa da baixa imunidade. No primeiro ciclo desse protocolo, com mais de quatro horas de infusão na veia, senti muito dificuldade para usar o banheiro porque fiquei muito grogue por causa do antialérgico, então para me poupar do desconforto resolvi experimentar usar uma fralda geriátrica para evitar ter que me levantar. 
     No início achei muito estranho usar a fralda, mas só de não precisar levantar auxiliada por duas pessoas já valeu a experiência. Ir até o banheiro carregando aquela parafernália com soro e químio, e ainda amparada, é complicado e eu tinha medo de cair.
     Ontem durante o dia me senti bem melhor do que no primeiro ciclo, pois não fiquei nauseando e nem senti aquela fadiga horrível. Acho que é porque da outra vez fiz a dose de ataque que é mais pesada. Uma coisa que observei durante o dia era que de vez em quando eu engasgava com a saliva e percebi durante a noite, quando eu acordava por ficar engasgada, que voltei a produzir saliva e acho que meu cérebro ainda está se acostumando com a nova condição, então ainda engasgo. Quando minha boca ficou com baixa salivação eu acordava com os dentes pregados nos lábios e era muito desconfortável. Meu dentista chegou a recomendar o uso de saliva artificial para aliviar o problema e evitar cárie.
     Fiquei pensando no que pode ter acontecido para que meu corpo voltasse a produzir o fluxo normal de saliva e me animei em pensar que se isto aconteceu espontaneamente quem sabe o mesmo mecanismo que proporcionou a reposição da saliva também não resolva parar de produzir novas células neoplásicas? Se um dia meu corpo se desprogramou para me adoecer acredito que ele também poderá voltar a se reprogramar para me deixar saudável. Sabe que gostei desta idéia. Quem sabe dá certo?

Quimioterapia - baixa imunidade - granuloquine

     Ontem pela manhã fui novamente ao consultório do Dr. Gustavo Lara, o otorrino que me atendeu semana passada depois da forte crise de zonzeira durante uma consulta com meu oncologista. A tal manobra de Brandt Daroff é realmente mágica, pois resolveu o problema. De qualquer forma precisei fazer a ressonância magnética do crânio e da coluna. O Dr. Fernando solicitou a ressonância do crânio para descartar uma possível metástase no cérebro. A da coluna é por causa da metástase óssea que tenho na vértebra T3 e das fortes dores em minhas costas. Precisamos descobrir a origem dessa dor que me impede até pequenas caminhadas, estragando o meu prazer em andar por aí.
     Hoje estava agendada a segunda dose do novo protocolo de quimioterapia, mas como minha imunidade estava muito baixa o Dr. Fernando achou melhor adiar por mais uma semana enquanto tomo 5 doses de granuloquine. Mais uma vez será necessário tomar esta medicação que deixa meu corpo moído de dor, mas o que não tem remédio...
     Pior que tomar cinco doses de granuloquine é saber que daqui para frente será necessário tomar outras cinco doses após cada quimioterapia. E depois ninguém entende porque não gosto de usar carboplatina. Era tão mais fácil quando eu fazia apenas o Herceptin.
    

Manobra de Brandt Daroff e o mundo parou de girar ao meu redor

      Depois que fiz a primeira dose da quimioterapia do novo protocolo comecei a me sentir zonza todas as vezes que me virava na cama ou mexia com a cabeça para os lados ou para cima e para baixo. A vertigem piorou bastante esta semana, mas como eu já estava com consulta agendada com meu oncologista acabei adiando a do otorrino.
     Hoje pela manhã passei pela consulta com o Dr. Fernando e senti uma zonzeira muito forte quando tentei me deitar para o exame clínico. Ele fez um teste mandando eu seguir a ponta de seu dedo apenas com os olhos e concluiu que o melhor seria adiar a quimioterapia que estava agendada para hoje para a próxima sexta-feira, e me encaminhou para o consultório do Dr. Gustavo Lara, que é otorrino, para um atendimento emergencial.
     O Dr. Gustavo fez alguns testes de equilíbrio corporal e acabou concluindo que tudo não passava de uma vertigem posicional. Ele explicou que isto pode acontecer por causa do uso de alguns quimioterápicos e outras causas, mas que não é grave e é relativamente simples de resolver. Não prescreveu nenhum tipo de remédio, o que me agradou muito, e optou pela manobra de reposição canalítica, chamada Manobra de Brandt Daroff.
     A Manobra de Brandt Daroff tem o objetivo de reposicionar corretamente alguns cristais que ficam dentro do nosso ouvido interno, no labirinto. Estes minúsculos cristais chamados otólitos são responsáveis pelo equilíbrio do nosso corpo e quando saem do lugar tiram nosso corpo do prumo. São alguns segundos assustadores que parecem nos jogar no olho de um furacão. É uma sensação muito ruim.
     Na hora que o Dr. Gustavo iniciou a manobra o mundo ao meu redor girou feito louco e manter os olhos abertos foi bem difícil, mas na medida que os exercícios avançavam a zonzeira foi cedendo e quando saí do consultório já me sentia muito melhor. Que manobra mais eficiente! Fiquei encantada. Agora vou fazer alguns exercícios em casa e retorno ao consultório para outra avaliação na próxima quinta-feira.
     De qualquer forma o Dr. Fernando achou mais seguro pedir uma ressonância magnética de crânio para descartar qualquer problema mais grave. Na próxima quinta-feira vou fazer a ressonância do crânio e também da coluna para saber exatamente o que está provocando as dores nas costas e na sexta-feira faço a segunda dose no novo protocolo.

Sintoma novo: zonzeira

     Há umas duas semanas mais ou menos percebi que as vezes, ao me virar na cama, ficava zonza. Não dei muita importância para o problema até ontem quando a coisa começou a piorar. Agora quase todas as vezes que abaixo, levanto ou viro a cabeça o mundo inteiro parece girar ao meu redor. Ainda bem que a zonzeira passa relativamente rápido, mas nem por isto deixa de ser um grande incômodo.
     Não sei se a zonzeira é algum efeito colateral da nova medicação que estou usando ou se é labirintite ou algo relacionado com o ouvido, mas na próxima semana vou fazer uma consulta com um otorrino. Ficar zonza toda vez que faço algum movimento com a cabeça é muito chato, além do perigo de acabar esborrachando no chão por falta de equilíbrio.
     Na próxima sexta-feira também vou fazer a segunda dose do novo protocolo quimioterápico, mas antes vou passar por mais uma consulta com o dr. Fernando. A primeira semana depois da quimio foi bem difícil e cheia de efeitos colaterais, mas a segunda foi mais tranquila. Agora sinto mais é fraqueza, mas também não é o tempo todo.
     Minha unha do pé continua dando trabalho e o dedão do pé direito está muito dolorido. Hoje fui na podóloga e a Inês, além da órtese, colocou também uma borracha para ajudar a levantar a unha para que ela não continue enterrando na lateral do dedo e provocando dor. Tomara que dê certo, pois sentir dor o tempo todo é irritante demais e eu não tenho a menor vocação para mártir e detesto sentir dor (será que alguém gosta? Acho difícil, mas como existe doido para tudo...).

Primeira semana do novo protocolo

     Na última sexta-feira fiz a primeira dose do novo protocolo que inclui a carboplatina e já no dia seguinte comecei a sentir os efeitos colaterais da medicação que inclui náusea e fadiga intensa. Dormi a maior parte do tempo, o que de certa forma ajuda a sentir menos o problema da náusea mas não resolve.
     Os primeiros dias foram bem difíceis, pois passar o tempo todo sentindo náusea e tendo refluxo ninguém merece. Evitava conversar para não piorar as coisas, pois quando tentava falar a náusea parecia ficar ainda pior (um castigo para quem gosta de um papinho furado).
     Meus cabelos já começaram a cair e antes que a coisa piorasse resolvi hoje que estava na hora de passar a máquina número dois para deixá-lo bem baixinho. Acho menos deprimente deixar o cabelo raspadinho do que ficar olhando o piso branco do banheiro ficar cheio de tufos negros e prata de um cabelo que fatalmente vai cair todinho mesmo. Além do mais não vejo o menor problema em assumir minha careca. Taí um problema que não me afeta nem um pouco e eu até gosto da minha careca, basta colocar uns brincos bem grandes que fica até interessante... Minha mãe não gostou nada quando me viu sem cabelos. Pobrezinha, ela ainda associa a perda de cabelos com a morte iminente por causa do câncer. Ainda bem que os tempos mudaram e a medicina avançou muito no tratamento desta doença que ainda assombra e mata muita gente.
     Até ontem foi bem difícil conviver com os efeitos colaterais da quimioterapia, mas hoje já estou me sentindo um pouco melhor. A sensação de fraqueza e fadiga ainda persistem, mas o enjoo diminuiu e até consegui almoçar quase perto do normal. Estou fazendo refeições ainda menores do que faço normalmente mas com intervalos mais curtos e acho que o resultado está sendo satisfatório, pois estou conseguindo me alimentar bem, eu diria. De qualquer forma vou conversar com uma nutricionista para ter certeza de que estou me alimentando bem mesmo.
    

Evolução do câncer metastático e mudanças no protocolo

     Já faz algum tempo que não escrevo nada sobre meu tratamento, afinal a doença estava sob controle e tudo caminhava relativamente bem durante mais de seis meses até que comecei a perder peso e sentir dores nas costas, principalmente quando eu caminhava. Meu intestino também não estava normal, e depois de perder uns seis quilos, sem fazer nada para que isto acontecesse, logo imaginei que alguma coisa errada devia estar acontecendo com meu corpo. 
     Agendei o PET e o resultado, por causa dos jogos da copa, demorou um pouco mais do que o normal para ficar pronto. Acho muito estranho, e realmente não consigo entender, que jogos de futebol, sejam de copa ou de qualquer outro campeonato, interfiram até mesmo no tempo para sair o resultado de um exame tão importante para o controle e o tratamento de uma doença como o câncer. Os pacientes graves não estão preocupados com o resultado da copa do mundo... 
     Assim que peguei o resultado do PET no laboratório fui direto para minha consulta com o dr. Fernando Maluf e, como eu já esperava, fiquei sabendo que o câncer no esterno e na vértebra T3 havia piorado, mas os demais focos do doença continuavam estáveis. Pensei: menos mal do que eu esperava, pois os órgãos vitais continuam preservados e só isto já é uma grande vantagem.
     O Dr. Fernando optou por mudar o protocolo que eu vinha fazendo desde que iniciei o tratamento com ele. Foi retirado o Tykerb e mantido o zometa (só que mensal e não mais trimestral como era antes) e o Herceptin, mas foi acrescentado o Pertuzumab e a Carboplatina. Quando ele mencionou a carboplatina cheguei a sentir um arrepio, pois me lembro muito bem que já usei esta quimioterapia e não foi nada fácil. Minha imunidade despencava e já viu o resto... Protestei mas fui voto vencido e hoje fiz a primeira dose do novo protocolo, com a tal da carboplatina.
     Quando cheguei na Oncovida tive a grata surpresa de encontrar em treinamento o Humberto, um auxiliar de enfermagem que trabalhava na outra clínica onde eu fazia tratamento. Demos um gostoso abraço naquele encontro inesperado, pois foi muito bom rever alguém com quem convivi durante mais de cinco anos.
     Como a clínica estava lotada fui encaminhada para uma sala coletiva ao invés do box individual e em poucos minutos eu já estava conversando abobrinhas com todos os outros pacientes e acompanhantes e dando gostosas gargalhadas. O enfermeiro que nos atendia deve ter estranhado tantas risadas e insinuou, muito discretamente, que era melhor diminuir a alegria, pois era possível ouvir nossas risadas nas outras salas. Olhamos uns para os outros e rimos ainda mais, afinal, rir ainda costuma ser o melhor remédio para a cura de muitos males.
     Logo depois da discreta bronca o enfermeiro aplicou uma medicação na minha veia e falou alguma coisa que não registrei, mas poucos minutos depois senti meu corpo ficar estranho e pesado, minha língua parecia grossa e então comecei a sentir dificuldade na fala. Perguntei o que estava acontecendo comigo e ele riu dizendo que havia alertado que estava aplicando um forte antialérgico que já estava fazendo o efeito esperado e eu iria dormir. Ainda rindo das conversas fiadas com os outros pacientes que estavam tomando medicações mais leves do que a minha falei com o enfermeiro que ele tinha me aplicado um sossega leão para que eu calasse minha boca e parasse com a conversa e as gargalhadas. Só me lembro que ainda ri um pouco mais com a brincadeira e fui sentindo que eu era tragada para um buraco negro bem longe dali. As vozes foram ficando cada vez mais distantes. Tentei resistir mas foi impossível, dormi profundamente e quando acordei todos já haviam ido embora, só eu ainda estava ali sozinha fazendo quimioterapia. A Suzi, como sempre, aguardava pacientemente.
     Hoje fiquei mais de quatro horas na clínica para fazer todo o protocolo. Saí de lá completamente grogue e precisei de ajuda para caminhar até o carro. Cheguei em casa e continuei a dormir um sono pesado, cheio de imagens confusas... Acordei ainda meio mole, cansada, sem muita vontade de conversar. Achei melhor vir escrever um pouco.

De volta ao passado


          Ansiava voltar, mas nunca dava certo até que finalmente aconteceu. Na memória, muitas lembranças... Saudades... 


              Cheguei caminhando devagar sem a menor pressa e observei cuidadosamente tudo ao meu redor. Os  jardins cobertos de flores perfumadas continuavam lindos e ainda exibiam sem o menor pudor o mesmo caleidoscópio de cores vibrantes que embriagaram meus sentidos desde a primeira vez que passei por ali.  


          Aspirei com prazer o ar fresco da manhã fria que encheu meus pulmões e despertou ainda mais meus sentidos...







Sentei-me num banco de madeira embaixo de uma árvore frondosa e por alguns momentos fiquei apenas ouvindo o canto dos pássaros e o grasnar agourento dos corvos, que fizeram despertar doces lembranças adormecidas...










          Sem pressa de levantar deixei o tempo passar enquanto observava algumas aves ciscando pequenos insetos escondidos na grama ainda molhada pelo orvalho da noite.


          Uma mamãe muito cuidadosa chamou seus pequenos filhotes que imediatamente pararam de ciscar a grama e saíram correndo para a seguirem obedientes. Fiquei impressionada com a rapidez com que os patinhos atenderam ao chamado da mãe.


          Continuei minha caminhada pelo parque, desbravando mais uma vez as belezas de seus canteiros floridos e o encanto das matizes das cores reveladas naquele final de primavera.





          Sorri feliz ao me dar conta que meu coração estava em paz e tão sereno quanto aquela manhã que dava início a uma nova estação que prometia céu azul e sem nuvens.

Um café da manhã especial no dia das mães




          Quando levantei hoje de manhã encontrei estas lindas cestas em cima da mesa. Eram presentes da Raíssa e da Bárbara.
          Adoramos a surpresa que a Raíssa ficou até tarde arrumando e enfeitando em seu quarto. A Bárbara, mesmo estando longe e curtindo a lua de mel, ainda assim se preocupou com o dia dedicado às mães. Filhos são presentes de Deus. Obrigada meninas. Vou cuidar com muito carinho do meu novo bonsai de jabuticaba. Vocês acertaram em cheio com a orquídea da Suzi. O café da manhã foi especial. Vocês são demais!




As Bodas da Bárbara

          As mães dos noivos, as madrinhas e as damas de honra encheram o salão de beleza, que se abriu em pleno feriado de primeiro de maio apenas para atendê-las e deixá-las maquiadas e penteadas para o casamento no final da tarde. Algumas lavavam os cabelos, outras faziam o penteado ou pintavam as unhas e algumas já estavam fazendo a maquiagem. Alguém se lembrou de levar um lanche e todas puderam comer um pouco enquanto se preparavam para a festa. A noiva estava um pouco aflita, mas tentava disfarçar. Era seu grande dia e ela queria estar linda para a ocasião.





          O dia estava perfeito: o sol brilhando no céu azul com poucas nuvens e uma brisa suave soprando calma e deixando a temperatura agradável, ideal para um casamento ao ar livre no belo jardim de uma casa no Lago Sul com vista para o lago Paranoá, a ponte JK e lá longe, bem no alto do morro, a silhueta elegante da Torre Digital.


           A Juíza de Paz chegou pontualmente às 17h30min e ficou posicionada atrás do altar montado em frente à piscina com borda infinita. A água azul transparente cintilava com os últimos raios de sol do outono em Brasília. 
 


           Os poucos convidados, amigos íntimos escolhidos a dedo pelo jovem casal, já ocupavam seus lugares. Os acordes da música encheram o ambiente e devagar os casais de padrinhos desceram a escada que dava acesso ao jardim e caminharam pelo tapete colocado sobre o gramado para ocuparem suas cadeiras ao lado do altar. Em seguida o pai do noivo desceu a escada e ficou aguardando as mães da noiva e os três seguiram até seus lugares. O Henrique, muito emocionado, caminhou até o altar acompanhado de sua mãe. Por último entraram as damas de honra, amigas de infância da noiva. A música foi então interrompida por um instante para reiniciar logo em seguida tocando o tema do “Fantasma da Ópera”. Todos os olhares se dirigiram para o alto da escada onde a noiva apareceu sorridente e radiante em seu vestido branco tomara que caia, acompanhada de seu pai, seu pai do coração. Ele estava feliz e muito emocionado.



              A Bárbara desceu a escada com elegância e caminhou devagar até o altar, olhando e sorrindo para todos os amigos presentes na cerimônia. No momento em que o noivo foi recebê-la das mãos do pai e a beijou delicadamente na testa, como por encanto, o céu azul se tingiu de laranja e um bando de pássaros sobrevoou o jardim. Augúrio de felicidades para o jovem casal.




            
         O anoitecer caiu devagar sobre a cidade e o Lago Sul foi sendo envolvido pela noite fria. Aos poucos as luzes das casas foram se acendendo lembrando pirilampos iluminando a escuridão. Após as breves palavras da juíza, já quase terminando a cerimônia, a Bruna, muito emocionada e segurando o choro entrou carregando as alianças.
          A aliança, como símbolo do casamento, já era usada pelos egípcios 2.800 anos aC. Sendo um círculo, que não tem começo nem fim, ela representa a eternidade à qual a união do casal se destina e é colocada na mão esquerda para ficar mais próxima do coração.
          Após a troca das alianças a cerimônia chegou ao fim com o tradicional beijo. Os convidados se dispersaram dando início a animada festa do casamento.

          
           Os garçons começaram a servir canapés e bebidas enquanto um burburinho crescente enchia o ambiente. O DJ animava a festa com músicas alegres, um convite para dançar. Lá pelas tantas foi servido um delicioso jantar e, para sobremesa, como não podia deixar de ser, foram servidos o bolo e os bombons feitos com muito amor pela Suzi. Estava tudo uma delícia. Os convidados dos noivos aproveitaram a festa e dançaram animados. O casamento foi um sucesso. O Henrique e a Bárbara estavam muito felizes.