Lembrando mamãe

Minha filha achou meu texto macabro, mas acho que precisamos aprender lidar com a idéia da morte sem maiores sofrimentos. Minha intensão não é me despedir, como sugeriu minha filha. Aliás, posso garantir que ainda quero estar por aqui um bom tempo ainda. De qualquer forma, macabro ou não, fica aí o texto para reflexão.

Numa conversa com minha filha ela disse que não irá ao meu velório. Conversa mais estranha... Retruquei no ato dizendo que não quero ser velada e enterrada, prefiro ser cremada e ela disse que também não quer ver isso de perto, pois não está nem nunca estará preparada para minha morte.
Acho muito ruim que ela reaja assim diante da morte, pois a única certeza que temos é que um dia iremos morrer, inevitavelmente. Tudo que nasce, animal ou vegetal, um dia irá morrer.
Que ela não queira participar dessa despedida tudo bem, até porque eu também não gosto de funerais. Acho pesado, triste e até tenho por hábito não olhar quem está partindo. Prefiro guardar a imagem daquela pessoa viva.
De qualquer forma é importante estarmos preparados para encarar a morte. Ela é tão natural como o nascer e pode chegar sem aviso, de uma hora para outra, num átimo.
Minha filha precisa entender que estarei com ela para sempre. Para começar, sou metade do seu código genético. Vou estar nela também nas lembranças das coisas que formam minha personalidade e no jeito como gostamos de sorver a vida. Assim, quando ela tomar uma taça de um bom vinho irá lembrar que eu também apreciava a bebida de Baco; cada viagem, cada peça de teatro ou visita a uma exposição trará, de alguma forma, uma lembrança minha e é assim que prefiro ser lembrada. Todas as vezes que ela ouvir uma piada idiota irá recordar minhas gargalhadas porque lembrará que sempre ri muito de piadas idiotas. Adoro piada idiota, são as que mais me fazem rir. Também estarei presente no som de uma música ou quando ela usar uma echarpe bonita, um sapato elegante ou um belo brinco ou colar. Serão essas coisinhas que vez ou outra trarão minha lembrança, não o dia da minha morte.
A morte não é o fim, o que muda é a forma da energia que nos constrói. Como na metamorfose que transforma a lagarta rastejante e asquerosa numa linda borboleta, a morte também irá nos transformar numa outra forma de energia. E quanto ao funeral, não faço a menor questão. Se não for difícil pode até doar meu corpo para estudo, pois aquele corpo não será mais eu.
Falando nisso, um dia desses fui ver novamente a exposição dos corpos que estava no Ibirapuera. Já é a terceira vez que vejo essa exposição e cada uma delas acho mais interessante. Dessa última vi como reage o corpo na prática esportiva.
Os corpos estão perfeitamente conservados, mas falta-lhes a energia vital. Nenhum sentimento, nenhum pensamento, nenhuma emoção, apenas um amontoado de células formando ossos, nervos, músculos, órgãos. Uma máquina perfeita, mas nenhum homem será capaz de devolver vida aqueles corpos. Essa se foi para sempre, mesmo estando os corpos preservados.
1 Response
  1. Issia Montes Says:

    To com a Babbi, odiei o tom de despedida...


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou