Em qualquer clínica, hospital ou posto de saúde
O que se vê, além de expressões abatidas e caras de dor,
É um monte de jalecos brancos
Esvoaçando para lá e para cá
Dentro deles médicos, enfermeiros e auxiliares
Rostos anônimos puncionando veias,
Drenando tumores, aplicando injeções,
Tomando decisões que podem implicar em vida ou morte.
Hoje me vi cercada por alguns jalecos brancos com
Rostos conhecidos tentando me convencer sobre um procedimento.
Depois de muita conversa e explicações
Conclui que não restava outra saída e
Acabei me colocando em mãos desconhecidas
Dentro de outros jalecos brancos.
A atenciosa médica do plantão
Examinou as unhas inflamadas nos meus pés
E preveniu que a injeção seria muito dolorida.
Desolada, fiquei aguardando minha vez enquanto observava
Outros pacientes serem atendidos.
Uma enfermeira puncionava a veia saliente
Que descia sinuosa pelo braço de pele muito branca do jovem rapaz.
Outra enfermeira chamou meu nome e
Nem me atentei para seu rosto
Tudo que vi foi uma seringa com uma agulha enorme
Apontada sinistramente em minha direção.
Um líquido branco opaco ocupava mais da metade do tubo
A enfermeira informou que o procedimento precisava ser rápido
Para não obstruir a agulha e
Com um ar divertido no rosto
(talvez apenas fruto da minha imaginação fértil)
Avisou que sendo uma injeção muito doída
Precisava ser aplicada nos glúteos.
Insegura e preocupada com o tamanho da dor
Perguntei como deveria proceder
A resposta veio seca e objetiva: basta ficar de pé
E abaixar um pouco a calça comprida.
Obedeci a ordem sem entusiasmo e fiquei esperando a dor chegar
A agulha penetrou meu músculo e a temida benzetacil aplicada.
Nem percebi quando tudo terminou
Pois a dor anunciada simplesmente não aconteceu.
Acho que estou anestesiada com tantas dores
Que esta nem abalou.
Ainda bem, tudo não passou de um falso alarme.