Estou em frente a tela branca do computador pensando sobre o que posso escrever sobre relacionamentos amorosos.
Depois de muito pensar cheguei a conclusão de que meus relacionamentos amorosos não tiveram nada de especial ou passagens picantes, mas certamente tiveram um pouco de coisas proibidas...
Eu, como muitas mulheres de minha geração, tive uma criação muito reprimida sobre esse assunto. Para começo de conversa não fui muito namoradeira. Quando mais jovem (e nem faz tanto tempo assim kkkk) o papo era casar virgem. Não acredito que muitas mulheres chegassem virgens à tão sonhada lua de mel, mas que o papo era esse ah! Posso garantir.
Tendo sido criada em um meio muito adulto, pouco consegui me relacionar com pessoas na minha faixa etária. Quando criança, ainda bebê, vivi muito no meio das freiras do colégio onde minha mãe passou boa parte da juventude. Na adolescência sempre me senti meio deslocada entre os jovens da mesma idade. Acabei por me relacionar com pessoas mais velhas. Aliás, para ser franca acho que nem tive essa fase de adolescência. Tenho a impressão de que isso nem existia naquela época. Agora, de uns tempos para cá, é que inventaram essa tal de adolescência (ou aborrescência como preferem alguns) para justificar a rebeldia sem causa, os desajustes emocionais...
Voltando ao tema relacionamento lembro-me que, ainda jovem, me apaixonei por um garoto da mesma escola. Ele era um pouco mais velho (nem sei quantos anos), cabelos louros e encaracolados, olhos bem azuis e, para mim, o sorriso mais encantador que poderia existir. Ele tinha uma mobilete e era só ouvir o barulho do motor que eu disparava até a janela para vê-lo passar. Era um amor bem platônico, pois acho que ele nunca ficou sabendo da minha paixão. Ah! Ia me esquecendo de contar que tínhamos uma coisa em comum: uma criação de pombos. Ele vivia lá em casa pegando ou levando um pombinho diferente. Uma vez, ao saber que eu gostava de ler me levou, emprestadas, um monte de revistas em quadrinhos. Pensem num coração disparado, parecendo uma bateria fora do compasso, era o meu cada vez que ele entrava em minha casa. Um belo dia ele mudou de cidade e eu nunca mais soube de seu paradeiro.
O tempo foi passando e nem namorado eu arranjava. Uma vez conheci um garoto que estava passando férias na cidade onde eu morava, mas não durou muito, pois eu o achava meio bocó. Acho até que o problema era esse: eu gostava de ler, me achava muito sabidinha e todo mundo era meio devagar na minha não pouco modesta opinião.
Houve algumas declarações, pedidos de namoro e até proposta de casamento, mas nenhuma me interessou em particular. Eu queria mesmo era ganhar o mundo. Não conseguia me imaginar pilotando um fogão, cuidando de marido ou de crianças.
Quando terminei a 8ª série resolvi mudar de colégio e fui fazer o primeiro ano em outra cidade. Lá conheci o Tarcísio, um motoqueiro cabeludo e de bem com a vida. Foi um horror. Todo mundo deu o contra. A pressão foi tanta que por fim obrigaram-me a voltar para casa. Voltei contrariada e muito "revoltada" (será que era crise da adolescência?).
Terminei o 2° grau e voltei para o Rio de Janeiro, cidade onde nasci. Não fiquei muito tempo por lá e resolvi mudar para Brasília. Não conhecia nada nem ninguém. Aqui chegando comprei um jornal, arrumei onde morar dividindo um apartamento com mais duas pessoas (desconhecidas para mim) e três dias depois já estava trabalhando com carteira assinada e tudo o que tinha direito. Fiquei naquele escritório de advocacia por mais de doze anos até que passei num concurso do antigo Tribunal Federal de Recursos, e me tornei funcionária pública como a maioria dos moradores de Brasília.
Já perceberam que mudei de assunto novamente. Acho que falar de relacionamentos é meio complicado para minha cabeça, mas vamos lá. Tive um namoro mais longo com um rapaz mais velho (acho que pelos menos uns 10 anos, nem me lembro). Era um homem inteligente, bem humorado e com um tom meio sarcástico. Gostei muito dele. Apaixonei-me até, mas no dias em que admiti que o amava ele simplesmente acabou o namoro que já durava mais de ano e sumiu. Chorei bastante mas um dia passou e não doeu mais.
Tive outros namorados, entre eles um japonês muito divertido e bem humorado. Ele tinha um defeito que atrapalhava muito, fumava feito uma caipora e exalava um forte cheiro de nicotina, motivo do nosso rompimento. Houve ainda uma paixão que durou quase uns cinco anos. Era um homem inteligente, um advogado brilhante e muito mais velho do que eu (22 anos para ser exata). Acabei tendo uma filha com ele. Era casado e é lógico que deu no pé assim que soube da gravidez. Mais ou menos sete anos depois, faleceu sem conhecer a linda filha que teve comigo (ele não sabe o que perdeu).
Essa ruptura traumática me deixou ainda mais ressabiada com os relacionamentos. Passei um bom tempo sozinha, tive alguns flertes, mas nada sério. Por outro lado eu não quis colocar um homem dentro de casa com uma filha pequena. Alguns podem ver isso como preconceito ou qualquer coisa que o valha, mas o fato é que eu não gostava da idéia e não me arrependo de não ter me casado.
Anos depois, quando minha filha já estava com treze anos (e eu viúva sem nunca ter sido - lembram da viúva Porcina?) resolvi passar um ano morando em outro país. Minha filha não quis me acompanhar, então fui sozinha mesmo. Foi a melhor coisa que fiz.
Lá, longe de toda minha história, pude ser eu mesma sem reservas. Acabei me envolvendo com um jovem vinte anos mais novo do que eu e foi bom demais. Rejuvenesci. Até fiquei curada do câncer que me roubara uma das mamas e me deixara algumas sequelas.
Algumas pessoas devem estar curiosas e pensando: que criatura mais doida. Passa a vida toda se envolvendo com pessoas mais velhas e de repente se enrola com um jovem.
Sou assim mesmo, e de vez em quando dou uma guinada de 180° em minha vida. Saí de casa aos 18 anos numa época em que era difícil uma jovem sair sozinha do interior para uma cidade grande. Envolvi-me com um homem mais velho, casado, e ainda solteira, aos 28 anos tive uma filha. Muitos ficaram chocados com minha ousadia.
Agora eu pergunto: Qual o problema inverter os papéis e se envolver com um homem muito mais jovem do que eu? Foi outra guinada em minha vida e garanto que a experiência valeu a pena.
É claro que o romance não durou. Assim que retornei para minha vida em Brasília, tudo acabou e restou apenas uma doce lembrança. Ah! Essa eu garanto: ninguém vai me tirar...
O tempo continua a passar e hoje, assim que sentei em frente à tela branca do computador, acabei por me dar conta de que continuo sozinha. Quem sabe quando terminar meu tratamento eu decida viajar novamente e me aventurar com um novo e grande amor?...