Luana, uma gata siamesa muito elegante e charmosa, foi adotada pela família quando era apenas uma jovem gata adolescente. Ficamos com muita pena dela que precisou ser doada para que sua dona, uma senhora que ia se tornar avó, pudesse tomar conta da neta que estava para nascer. Achei uma crueldade com a senhora e com a gata e foi isso que motivou a adoção de Lulu.
Como toda siamesa ela tinha os membros e a cauda bem longos, era magra e elegante, tinha os olhos muito azuis e estrábicos e caminhava com muita graça. Era uma lady. Em pouco tempo entrou no primeiro cio e aí começaram os problemas.
Chegava a noite e a gata miava desesperada, doida para sair a procura de um gato qualquer. Era um miado tão agoniado que dava dó, mas também irritava qualquer um que a ouvisse. O que ninguém queria entender era o chamado da natureza para perpetuação da espécie...
É claro que uma noite, driblando a vigilância da casa, Luana escapou na escuridão. Ficou um dia inteiro sumida até que retornou à casa como se nada tivesse acontecido. Algum tempo depois, com a barriga crescendo, ficou claro que ela tinha encontrado o parceiro que procurava.
Nasceram tres gatinhos. Um preto e branco e dois com o colorido do siamês e olhos azuis. A diferença era que os gatos tinham as pernas e a cauda curtas e eram peludos como um angorá. Eu os chamava de sialatas, uma mistura de siamês com vira-latas, pois era impossível deduzir a que raça pertencia o pai.
Doei todos os filhotes e assim que desmamaram comecei a entregá-los para seus novos donos. Um deles precisou ficar mais alguns dias em casa porque sua nova dona havia viajado. Nesse meio tempo decidi mandar castrar a gata para não ouvir mais seus miados sofridos em cada cio e muito menos correr o risco de uma nova ninhada indesejada.
Para meu azar a gata pegou uma infecção na clínica veterinária e acabou transmitindo a bendita para o gatinho que ainda estava aproveitando as últimas mamadas. Resultado, não pude entregar o filhote porque ele precisou fazer tratamento para a infecção e tinha que ir todos os dias com sua mãe tomar o remédio na clínica.
A cura demorou o suficiente para minha mãe cair de amores pelo gatinho e não aceitar que ele fosse doado para qualquer pessoa. Tive que ficar com o gato que acabou batizado com o ridículo nome de Bubu.
Justiça seja feita, o Bubu é um gato lindo. O pelo com a coloração quase branca tem o desenho do siamês só que num cinza bem claro. Os olhos são enormes e de um azul profundo com um risco escuro em volta; parece até que alguém passou delineador. A pontinha do nariz é preta, como se tivesse sido pintada a mão. Suas pernas são curtas e a cauda também e ele é bom fofinho e peludo como um persa ou angorá.
Beleza à parte, o Bubu é um gato muito cínico e vingativo. Se for contrariado ele desconta a raiva fazendo xixi. Pode ser na coleção de CDs, nas portas ou na cortina da sala de jantar. Qualquer lugar serve de alvo para aplacar sua ira. Se eu esquecer a porta do meu quarto aberta pode procurar que encontra uma marca mal cheirosa de sua famosa mijada. Preferencialmente na saia de renda da minha cama que já precisou ser lavada não sei quantas vezes. Até parece que ele sabe que não gosto muito dele.
Quando ouve o barulho da tampa do requeijão sendo aberta o gato começa a miar sem pausa até conseguir um pouco do requeijão para lamber. Ele adora a iguaria. Se quer comer carne moída ou aquelas comidas de gato que vem nas latinhas ele pára em frente da geladeira e dispara a miar até que alguém, já bastante irritado com seus miados, dê o que ele quer para calar sua boca.
Os gatos dormem dentro de casa, mas de vez em quando o Bubu resolve querer sair para o jardim no meio da noite. Ele pára em frente a porta da cozinha, e o que acontece? Começa a miar feito um doido. Se não abrimos a porta para que ele satisfaça sua vontade de sair pode contar, você vai encontrá-lo com a cauda em pé, o bumbum erguido e, com cara de cínico, dando a maior mijada, de preferência na cortina branca da sala de jantar. Já nem fecho mais a cortina, deixo apenas o forro fechado para ficar mais fácil tirar para lavar.
Quando alguém elogia a beleza do Bubu sempre costumo dizer: fique a vontade para adotá-lo. É claro que ninguém se habilitou e ele continua em casa até porque já está velho e seria crueldade mandá-lo embora. Ele é um gato arredio e que não gosta de colo ou carinho. Prefere ficar na dele, deitado numa almofada macia. Sempre que o vejo deitado, com os olhos semicerrados, acho que bolando onde será o alvo de sua próxima mijada certeira.
Lou Montes
26/nov/09